"A arte é a contemplação: é o prazer do espírito que penetra a natureza e descobre que ela também tem uma alma. É a missão mais sublime do homem, pois é o exercício do pensamento que busca compreender o universo, e fazer com que os outros o compreendam." (Auguste Rodin)

quarta-feira, 24 de outubro de 2012

3ª Série - Texto 2 - 2ª UNIDADE 2012


Mudanças no poder, transformações na arte


Mas não é apenas a rebeldia dos jovens e a necessidade das novas gerações de criar suas próprias formas de expressão que levam à modificação dos padrões estéticos. A arte retrata o seu tempo, por isso as modificações na sociedade levam a grandes transformações nos padrões artísticos. Guerra, revoluções, alternâncias significativas no poder político resultam em nova linha na produção artística.
Na época das grandes monarquias européias era comum, por exemplo, que um estilo de arquitetura e arte fosse associado ao imperador que escolhia e patrocinava os artistas, com encomendas de monumentos, edifícios públicos e pinturas históricas. Alguns desses estilos ficaram conhecidos pelo nome do soberano, como o elisabetano na Inglaterra, o manoelino em Portugal e o Luís XIV na França. A sucessão de soberanos refletia-se, portanto na renovação dos estilos.
No Brasil, no século XIX, D. João VI foi responsável por grandes modificações na arte e na cultura. Contratou artistas franceses que constituíram a chamada missão francesa, cuja chegada ao Rio de Janeiro ocorreu em 1816. Aqui organizaram a Academia Imperial de Belas-Artes, onde, como professores, promoveram a substituição do Barroco colonial pelo Neoclassicismo, vigente da Europa. Essa reforma cultural pretendia colocar o Brasil em compasso com a Europa e substituir o estilo artístico desenvolvido pela Igreja Católica durante o século XVIII. Como outros monarcas europeus, D. João queria que a arquitetura, a pintura e a música tivessem o seu selo.
Mas não foi o nosso monarca o único governante a influenciar os rumos das artes no Brasil. Getulio Vargas, durante o tempo em que foi presidente da República, e em especial no Estado Novo, procurou promover as artes e a cultura, tentando dar-lhes sempre um cunho nacionalista. Foi o grande incentivador de Heitor Villa-Lobos e até mesmo de Candido Portinari. Juscelino Kubitschek, por sua vez, na década de 1960, promoveu a arte moderna e fez construir Brasília, grande marco da nossa arquitetura modernista que consagrou  o mundo todo os nomes de Oscar Niemeyer e Lúcio Costa, seus projetistas.

Um novo olhar sobre Salvador

Salvador: história e arquitetura

 

Salvador é, sem dúvida, uma das cidades mais belas do Brasil. Por isso, e por outra série de características singulares, tornou-se também um dos principais destinos turísticos tanto nacionais quanto internacionais. Famosa pela sua história, pelo legado deixado por povos de outros continentes, pela miscigenação cultural, pelo sincretismo religioso e pelo povo hospitaleiro.
A cidade é um importante destino turístico do país. Quanto ao turismo internacional, fica atrás apenas do Rio de Janeiro em procura. O interesse pela cidade se dá pela beleza do seu conjunto arquitetônico e da cultura local (música, culinária e religião).
Salvador, fundada em 29 de março de 1549, foi a primeira capital do Brasil, posição que manteve durante 214 anos (1549-1763).
A Cidade de Salvador fica debruçada sobre o mar transparente e calmo da Baia de Todos os Santos. Suas águas, mornas e receptivas ficam quase que totalmente protegidas por várias e belas ilhas, como a de Itaparica, Ilha de Maré e Ilha dos Frades.
Cidade antiga e primeira capital do Brasil, Salvador consegue contrastar harmonicamente os casarios coloniais do Pelourinho, (Patrimônio da Humanidade) com largas avenidas e edifícios de arquitetura arrojada como a Casa do Comércio.
Sua localização estratégica na costa brasileira propiciava as ligações Portugal - Brasil - África - Ásia e a equidistância entre as regiões Norte e Sul do Brasil, aliada às condições requeridas para o abrigo seguro e a correta manobra das embarcações.
Tudo isso determinou a sua escolha como local ideal para a construção da capital do BRASIL.
O conjunto arquitetônico colonial de Salvador é de importância irrefutável, possuindo inclusive o Título de "Patrimônio Histórico e Artístico da Humanidade" conferido pela O.N.U.
Sua exuberante geografia é dividida em dois andares, cidades alta e baixa. Seu rico patrimônio histórico e cultural foi herdado pela miscigenação das raças (indígena, africana e européia) e está presente na religiosidade, nas manifestações culturais e nos costumes de um povo alegre e hospitaleiro. Esses atributos singulares despertam a curiosidade no imaginário das pessoas, tornando Salvador num excelente produto turístico nacional e internacional.
A Cidade Baixa surgiu com sucessivas ampliações da área de praia original que, a partir de meados do século XVI, chegava ao pé da “montanha” para servir como o Porto da antiga Salvador. Nela foram construídas fortificações, amarras de naus, cais para saveiros e depósitos de mercadorias que iam e vinham de todas as partes do mundo. A primeira área é chamada de Conceição da Praia – cuja base foi erguida em 1549 a mando do capitão Tomé de Souza, o primeiro Governador-Geral do Brasil. Aí estão também o Forte de São Marcelo, edificado em meados do século XVII e reformado no inicio do século XIX para defesa do porto, o quebra-mar.

Construção da cidade

Salvador começou a ser construída no Pelourinho e as razões que levaram a escolha deste local são bastante claras. É a parte mais alta da cidade, em frente ao porto, perto do comércio e naturalmente fortificada pela grande depressão existente que forma uma muralha, de quase noventa metros de altura, por quinze quilômetros de extensão, o que facilitaria a defesa de qualquer ameaça vinda do mar.
Em poucos anos, Tomé de Souza construiu uma série de casarões e sobrados, na parte superior dessa muralha, todas inspiradas, evidentemente, na arquitetura barroca portuguesa e erguidos com mão de obra escrava negra e indígena. Para dar maior proteção à cidade, o Governador Geral limitou o acesso a apenas quatro portões, estes totalmente destruídos durante as tentativas sem sucesso, de dominação da cidade no séc. XVII.
Salvador desenvolve-se em dois níveis distintos: a Cidade Baixa, na estreita planície litorânea, é núcleo das atividades portuárias e comerciais, sobretudo do setor atacadista. 
Na cidade Baixa encontra-se o Forte de Nossa Senhora de Monte Serrat construído na época do Brasil colônia no limite norte da cidade de Salvador, sua primeira construção data do final do século XVI, sendo posteriormente reformado entre 1591 e 1602. Sua planta é um polígono irregular com grandes torres circulares em seus ângulos recobertos por cúpulas utilizadas como guarita e atualmente é sede do Museu da Armaria, criado em 1993. Encontramos também a Igreja Nossa Senhora da Boa Viagem, concluída em meados do séc. XVIII era primitivamente de nave única e corredores laterais, com tribunas superpostas e coro. Entre 1908 e 1912 é modificada com a demolição, no térreo, das paredes que separam a nave dos corredores, substituídas por pilares. Sua fachada possui composição simples e é realçada por uma torre de terminação piramidal, revestida de azulejos brancos e azuis. No seu interior, destacam-se o altar-mor e altares colaterais - barrocos - e os azulejos da capela-mor, doados como ex-votos e datados de 1743/46.
Ainda na cidade Baixa encontramos o Mercado Modelo, com lojas de artesanato, restaurantes e bares,  construído em 1861 e tombado  pelo Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, abrigou no passado a Terceira Alfândega da capital, é uma  obra em estilo neoclássico, com um corpo quadrado e telhado de duas águas, trazendo anexado, ao fundo, um pavimento de planta semicircular, culminando em uma cobertura em formato cônico, compondo uma rotunda, sem comparativo em toda a arquitetura nacional.
Na Ladeira do Contorno encontramos o Solar do Unhão, conjunto arquitetônico colonial em cujas instalações funcionou um engenho de açúcar, fábrica de rapé e trapiche e que foi quartel dos fuzileiros navais americanos durante a II Guerra Mundial. Hoje uma das principais atrações turísticas da capital baiana. Constitui-se em expressivo conjunto arquitetônico, integrado pelo Solar, pela Capela de Nossa Senhora da Conceição, um cais privativo, aqueduto, chafariz, senzala e um alambique com tanques. O conjunto atualmente sedia o Museu de Arte Moderna (MAM), totalmente restaurado. O solar também abriga o Parque das Esculturas que reúne 23 esculturas de 20 principais nomes da escultura moderna e contemporânea como: Bel Borba, Carybé, Chico Liberato, Emanuel Araujo, Fernando Coelho, Juarez Paraíso, Mário Carvo Júnior, Mestre Didi, Sante Ecaldaferrii, Siron Franco, Tati Moreno e Vauluizo Bezerra.
A Cidade Alta com os bairros residenciais que contornam o centro histórico, caracterizado pelo comércio varejista. Essa área da cidade foi a que mais se modernizou e onde se localizam os prédios da administração pública, embora se conservem casarões, sobrados, igrejas e palácios característicos da cidade antiga. Os dois níveis estão ligados pelo Elevador Lacerda, um marco da cidade, em funcionamento desde 1873, resalta a originalidade topográfica de uma cidade separada em dois níveis. Foi construído pelo engenheiro Augusto Frederico de Lacerda, utilizando peças de aço importadas da Inglaterra. Este grandioso monumento arquitetônico surpreende pelo seu porte, possui 72 metros da base até a torre dos elevadores e duas torres: uma que sai da rocha e perfura a Ladeira da Montanha, equilibrando as cabines, e outra, mais visível, que se articula à primeira torre, descendo até ao nível da Cidade Baixa.
A primeira capital do Brasil guarda em seu território muito da arquitetura da época colonial, abrigando relíquias seculares. Seus museus e palácios de excelência arquitetônica contam como era a vida da suntuosa e imponente Salvador nos tempos de Colônia e Império.
O traço da cidade declara a preocupação dos colonizadores do século XVI em criar uma cidade com boa estrutura de defesa, de maneira que sua porção litorânea fosse guardada pelos fortes sempre vigilantes a possíveis invasões.
O conjunto arquitetônico do Pelourinho está no mais alto sítio da cidade. Seus mais de mil sobrados, solares, palacetes, igrejas e conventos são voltados para o sul, o que remonta o modelo Ibérico de construções, com grandes salões voltados para o poente e quintais em forma de jardins ao fundo. Nestas construções as pedras de lios compõem as alvenarias e o acabamento, feito em azulejos portugueses. Durante a época da escravidão, era o lugar onde os escravos eram castigados. A praça é cercada por várias casas antigas, no mais puro estilo colonial, dentre elas o casarão da Fundação Jorge Amado ocupa o casarão que fica de frente para o Largo do Pelourinho, possui fachada no estilo colonial, janelas amplas a deixar a luminosidade e a ventilação tornarem o mais arejado possível o ambiente, paredes externas azuis para contrastar com a variada tonalidade dos demais casarões localizados nessa histórica região de Salvador. O acervo é composto por livros, artigos e discursos de Jorge Amado, além de vídeos, fotografias, periódicos e trabalhos acadêmicos que referenciam o escritor. É uma instituição cultural com várias atividades e um núcleo de pesquisas, com documentação sobre o próprio Jorge amado, Zélia Gattai e a literatura baiana.
A Igreja do Rosário dos Homens Pretos é outro exemplo de arquitetura, localizada no Pelourinho, iniciada nos primeiros anos do século XVIII pela Irmandade de Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos do Pelourinho, escravos que só podiam trabalhar na obra em seus momentos de folga, precisou de quase um século para ser concluída. Finalizada em 1796, é um dos marcos do Centro Histórico, com torres de influência indiana, fachada com estilo rococó, reúne trabalhos delicados e belíssimas torres e possui um painel no teto de José Joaquim da Rocha. Destacam-se em seu interior, os painéis de azulejos, os altares neoclássicos e três imagens o século XVII: a de Nossa Senhora do Rosário, São Antônio de Cartegorona e São Benedito. Nos fundos, localiza-se um antigo cemitério de escravos.
A Igreja de Nossa Senhora do Rosário dos Pretos a Catedral Basílica, dois grandes exemplos da arquitetura da época da Colônia.
No Pelourinho também encontramos o Museu da Gastronomia Baiana (MGBA) é o primeiro da América Latina totalmente dedicado à gastronomia, é um espetáculo só por sua arquitetura. Ao entrar, cumpre-se um circuito que começa nas Muralhas de Santa Catarina, o mais antigo e importante marco arqueológico de Salvador, que estão destacadas com projeto luminotécnico e painel apresentando as referências iconográficas e textuais. Seguido pela exposição permanente, veem-se grandes painéis assinados por fotógrafos renomados que abordam temas culturais diversos, como as comidas sagradas do candomblé. As fotografias ampliadas compõem os cenários humanos, reunindo maneiras de comer, as festas de largo, as baianas de acarajé e outros temas que mostram a diversidade de comer na rua, na casa, na festa e em cerimônias religiosas.
O museu traz as histórias das comidas típicas baianas, como acarajés, vatapás e moquecas, além de referências étnicas, sociais e culturais que fazem parte da gastronomia da Bahia.
O acervo do museu é composto por filmes, fotos, maquetes e utensílios de vários tipos de materiais que ajudam a sintetizar a formação da culinária brasileira.
No centro histórico de Salvador também se destaca o Solar do Ferrão – Se chamou Solar do Maciel, o segundo mais antigo Solar do século XVII. José Sotero Maciel de Sá Barreto comprou o terreno, construiu para morar e depois transfere o solar para os jesuítas, que fazem de lá o seu seminário. Com a saída dos jesuítas, o solar é rematado por Joaquim Inácio Ferrão de Aragão e ganha o nome de Solar do Ferrão.
O Solar do Ferrão abriga três importantes coleções: de arte sacra, do Museu Abelardo Rodrigues que guarda a mais valiosa coleção de arte sacra particular do Brasil. São imagens em madeira, barro cozido, marfim, pedra e metal, além de oratórios, imagens de Roca, e santeiros populares, pinturas, altares, crucifixos e fragmentos de talha expostos numa área de 536 metros quadrados. A coleção contém mais de 800 peças reunidas pelo pernambucano que dá nome ao museu. As obras datam do período entre os séculos XVIII e XIX. A de arte africana Panáfrica, da coleção Claudio Masella; e de arte popular, da coleção Lina Bo Bardi. O encontro entre estas expressões artísticas possibilita um diálogo único entre as matrizes que colaboraram para a formação do povo brasileiro: a indígena, a portuguesa e a africana.
O Ferrão também é sede da Galeria Solar Ferrão, espaço dedicado à arte contemporânea. A realização de exposições temporárias dinamiza o local propondo uma ponte entre o passado e o presente e possibilitando aproximações que atualizam e ressignificam a produção artística.
As três coleções de arte, em diálogo com as produções artísticas contemporâneas da Galeria, proporcionam um vigor e dinamismo que consolidam o Centro Cultural Solar Ferrão como um dos principais centros de arte e cultura do Pelourinho.
O Museu Afro-Brasileiro da Universidade Federal da Bahia um dos poucos no país a tratar exclusivamente das culturas africanas e sua presença na formação da cultura brasileira. Através de importantes elementos materiais, representativos dessas culturas, o museu apresenta conteúdos que facilitam a compreensão dos aspectos históricos, artísticos e etnográficos que identificam as sociedades africanas e permitem uma reflexão sobre a importância dessa matriz para o desenvolvimento da sociedade brasileira. É um espaço de coleta, preservação e divulgação de acervo referente às culturas africanas e afro-brasileiras, com o objetivo de estreitar relações com a África e compreender a importância deste continente na formação da cultura brasileira incentivando, por outro lado, contatos com a comunidade local.
Outro museu de grande importância é o Museu de Arqueologia e Etnologia da UFBA que se encontra implantado num sítio arqueológico colonial, representa os mais completos vestígios arquitetônicos do Colégio dos Jesuítas construído a partir de meados do Século XVI. O museu guarda valioso patrimônio em busca de preservar e reconstituir a memória e identidade do povo brasileiro através de suas exposições de acervos arqueológicos e etnográficos representativos do passado pré-colonial, colonial e contemporaneidade de povos indígenas que contribuíram para a formação da diversidade de povos e identidades brasileiras.
Chegando ao corredor da Vitória vamos encontrar o Museu Carlos Costa Pinto - Inaugurado em 5 de novembro de 1969, tem origem na coleção particular do comerciante e exportador de açúcar Carlos Costa Pinto (1885 - 1946), reunida ao longo de 30 anos. Instalado no casarão em estilo colonial americano, inicialmente à residência da família, a casa nunca foi habitada e uma série de adaptações para comportar a sua nova função foi feita ao longo de sua existência.
Doado pela viúva Margarida de Carvalho Costa Pinto, o acervo do museu possui um acervo de 3.175 obras de artes decorativas dos séculos XVII ao XX divididos em 12 coleções: Cristal, Desenho, Diversos, Escultura, Gravura, Imaginária, Mobiliário, Ordens Honoríficas, Ourivesaria, Pintura, Porcelana e Prataria. Um dos destaques do Museu é a coleção de pratarias (religiosa, civil e regional), uma das maiores do Brasil, exposta de acordo com a função dos objetos. As joias constituem outro ponto alto da coleção do Museu. 
Outro museu que se destaca no corredor da Vitória é o Museu de Arte da Bahia fundado em 1918. O novo e imponente prédio, conhecido como “Palácio da Vitória”, foi enriquecido com vários elementos arquitetônicos, oriundos de demolição de outros solares, a exemplo da magnífica portada seiscentista com moldura em arenito, formando desenho de tranças e frontão com volutas, datado de 1674. A sua porta monumental, em vinhático e jacarandá, é toda ela entalhada com vários painéis retangulares com expressivos mascarões em baixo relevo. O acervo do Museu de Arte da Bahia é formado de várias coleções particulares constituídas à partir da 2ª metade do séc. XIX e progressivamente adquiridas pelo Estado. possui ainda no seu acervo, uma série de cerca de 200 desenhos de Carybé, datados de 1950, gravuras de renomados artistas brasileiros, e estrangeiros, além de fotografais antigas e importantes documentos históricos.
Na Graça encontra-se o Palacete das Artes/Museu Rodin Bahia constitui-se de um prédio antigo e um anexo moderno. O projeto de arquitetura do Rodin Bahia, de autoria dos arquitetos Marcelo Ferraz e Francisco Fanucci, promove um diálogo entre o secular e o contemporâneo, buscando uma relação de equilíbrio entre eles na configuração dos três grandes ambientes: o palacete, o edifício anexo e o parque das esculturas. A parte antiga, o casarão propriamente dito, é uma construção de 1912, realizada para moradia de um rico empresário local, Bernardo Martins Catharino, com seus múltiplos espaços distribuídos pelos três pavimentos.  O projeto é do arquiteto Baptista Rossi, de origem italiana. Foi construído no estilo eclético, com elementos decorativos em art nouveau. Para sua construção foram importados materiais, operários e artistas europeus. Em 2006 foi feito, pelo governo da Bahia, o restauro do imóvel antigo e construído um anexo, com projeto do renomado arquiteto Marcelo Ferraz, ao seu fundo, para sediar exposições diversas. O prédio histórico foi destinado a abrigar esculturas do artista francês, Auguste Rodin, com peças em gesso, e nos jardins externos, em bronze, autenticadas, feitas em Paris.
No Largo da Graça encontra-se a Igreja da Graça foi fundada por volta do ano de 1535, e reconstruída em 1808, é uma das mais antigas, foi construída por ordem de Catarina Paraguaçu, mulher de Diogo Álvares, o Caramuru. Localizada próxima ao local onde residia o casal, é também o santuário mariano mais antigo do Brasil. A Igreja é rica em elementos históricos: estão nela os restos mortais de Catarina Paraguaçu. Os tetos da capela-mor e a nave são de autoria de Manoel Lopes Rodrigues, executados em 1881 e a imagem no altar-mor é a mesma encontrada por Caramuru e Paraguaçu, cuja visão milagrosa é descrita em tela da sacristia e no teto da nave.
Do século XVII vieram os registros beneditinos com igrejas de grande porte e riqueza. Adornos em madeira, folheados a ouro e pinturas ao teto finalizam estas construções com um toque do Barroco. Os espaços que melhor caracterizam esse período são a Catedral Basílica, a Igreja e Convento do São Francisco uma das mais ricas e espetaculares igrejas do Brasil, possui o interior todo recoberta em ouro, uma das mais singulares e ricas expressões do Barroco brasileiro. O edifício foi construído em pedra calcária nas partes aparentes, e arenito nas partes rebocadas. Todas as superfícies do interior - paredes, colunas, teto, capelas - são revestidas de intrincados entalhes e douraduras, com florões, frisos, arcos, volutas e inúmeras figuras de anjos e pássaros espalhados em vários pontos.
Um século depois, como reflexo da mudança da capital para o Rio de janeiro, a arquitetura torna-se menos vultosa, contudo ganha em elegância e graciosidade, o que relembra o rococó Barroco. Neste período foram construídas a Igreja de N. S. da Penha da França, N. S. da Conceição do Boqueirão, N. S. da Saúde e Glória e a famosa Igreja do Senhor do Bonfim construída em estilo neoclássico com fachada em rococó, essa típica igreja colonial portuguesa possui duas torres sineiras laterais. A Igreja chama a atenção por suas dimensões e pela posição de destaque na elevação onde foi instalada.
No século XIX cresce a urbanização da cidade, ganhou os sobrados elevados de até quatro pavimentos. A influência neoclássica é dominante com colunas, baixos relevos de guirlandas e medalhões nas fachadas. São datadas desta época as construções do Mercado Modelo (antiga Alfândega) e da sede da Associação Comercial.
No século passado, rompendo com o modelo de arquitetura antiga - marcante em toda a história da cidade, surge um novo traçado arquitetônico com largas avenidas e vales que incorporam prédios pós-modernos de formas não regulares, nos quais o vidro e o concreto são predominantes e contrastam com cores fortes. São exemplos da recente Salvador o prédio da Casa do Comércio, o Centro de Convenções, o Teatro Castro Alves (TCA) é o maior e mais importante centro artístico de Salvador, o Teatro Vila Velha possui o projeto arquitetônico de Sílvio Robato, que transformou um galpão em teatro, adequando-o ao espaço cedido pelo governo do Estado no Passeio Público, era a concretização do sonho daqueles jovens: o primeiro teatro independente da Bahia e os grandes shoppings centers.

Referências
COSTA, Cristina. Questões de Arte: O belo, a percepção estética e o fazer artístico. 1ª ed. São Paulo. Moderna. 2004.

sexta-feira, 19 de outubro de 2012

3ª Série - 2ª Unidade- Texto 2: CARYBÉ



Hector Julio Páride Bernabó,  foi um pintor, gravador, desenhista, ilustrador, ceramista, escultor, muralista, pesquisador, historiador e jornalista argentino naturalizado e radicado no Brasil. Ficou internacionalmente conhecido como Carybé, um destacado artista plástico figurativo do século 20.
Nascido em 7 de fevereiro de 1911, na pequena cidade de Lanús, subúrbio de Buenos Aires, o pintor viveu em Gênova e Roma (Itália) dos 6 meses aos 8 anos. Em 1919, veio morar no Brasil onde completou os estudos secundários no Rio de Janeiro e estudou na Escola Nacional de Belas Artes.
Aprendeu a desenhar em casa, vendo os irmãos mais velhos Arnaldo e Roberto que eram desenhistas, pintavam, esculpiam e trabalhavam em publicidade. Aos 21 anos Carybé começou a desenhar. Fazia cartuns, charges, ilustrações e escrevia - texto conciso, exato e bem humorado - tendo colaborado com diversos jornais e revistas de Buenos Aires e do Rio.
Naturalizado brasileiro, Hector Julio Páride Bernabó ficou internacionalmente conhecido como Carybé, um destacado artista plástico figurativo do século 20.
Em 1927, retornou para a Argentina, onde trabalhou em diversos jornais, até que o periódico 'Prégon' o contratou para viajar por vários países fazendo e enviando desenhos e reportagens de onde passasse. Com isso, Carybé começou a ter contato com várias culturas e diferentes formas de expressão artística, que influenciaram o seu trabalho como pintor. Em uma dessas viagens conheceu Salvador, onde começou a ter contato com a cultura baiana.
Até meados dos anos 40, Carybé viveu entre vários países, mas sempre retornando ao Brasil. Neste período, trabalhou como ilustrador de obras literárias e traduziu o livro Macunaíma, de Mário de Andrade, para o espanhol. Em 1943, fez sua primeira exposição individual e ilustrou o livro "Macumba, Relatos de la Tierra Verde", de Bernardo Kordan.
Em 1946, casou-se com Nancy, na província argentina de Salta, com quem teve dois filhos, o artista plástico Ramiro e a bióloga Solange. Após várias viagens para Salvador, em 1950 foi morar definitivamente na capital baiana, onde, através de uma carta de recomendação de Rubem Braga, foi contratado para fazer murais em prédios e obras públicas.
Durante os quase 50 anos em que viveu na Bahia, Carybé desenvolveu uma profunda relação com a cultura e com os artistas de Salvador. As manifestações culturais locais, como o candomblé, a capoeira e o samba de roda, passaram a marcar a sua obra. Ao lado de outros artistas plásticos, como Jenner Augusto, Mário Cravo e Genaro de Carvalho, participou ativamente do movimento de renovação das artes plásticas no Estado.
Bastante eclético, Carybé experimentou ao longo de sua vida grande parte das técnicas artísticas conhecidas, como aquarelas, desenhos, ilustrações, pinturas, esboços, gravuras, esculturas, talhas, cerâmicas e murais. Utilizou-se de diferentes estilos e técnicas (modelagem, incrustação, entalhe, alto e baixo relevo, cinzelação, mosaico, aquarela, pintura a óleo) aplicadas em diversos materiais ou suportes (madeira, cimento, argila, ferro, búzios, pedra, ladrilhos). Além desses trabalhos, destacou-se também na criação de diversos murais pelo mundo, entre eles, um no Aeroporto de Nova York.
Em 1938, chega a Salvador o jornalista, pintor e artista plástico argentino Hector Júlio Páride de Bernabó, melhor conhecido como Carybé. Trabalhou nas docas do porto e participou nas suas festas populares, conheceu o mestre Bimba e aprendeu capoeira, e apaixonou-se na Bahia com corpo e alma, "tarrafeado por sua luz, sua gente, seu mar e sua terra", como ele mesmo disse. Por esse motivo, partiria para retornar alguns anos depois com a firme intenção de aqui permanecer para sempre,  tornando-se, através dos seus desenhos e pinturas, um dos  mais importantes expoentes da cultura popular da Bahia.
Suas obras têm como características o uso de muitas cores e formas, como murais alegres de diversos temas.
Em 1957, o artista naturalizou-se brasileiro. Entre seus grandes amigos no país, destacou-se o escritor Jorge Amado, que escreveu, em sua homenagem, 'O Capeta Carybé'. Na obra, o artista foi definido como "feito de enganos, confusões, histórias absurdas, aparentes contradições, e, ao mesmo tempo, é a própria simplicidade". Carybé fez desenhos em inúmeras obras de Amado, além de ilustrar trabalhos para livros de outros autores de grande expressão, como Mário de Andrade, Gabriel García Márquez e Pierre Verger.
O artista também escreveu livros como 'Olha o Boi' e foi coautor da obra 'Bahia, Boa Terra Bahia', com Jorge Amado. Em 1981, após 30 anos de pesquisa, publicou a Iconografia dos Deuses Africanos no Candomblé da Bahia. Realizou também roteiros gráficos, direção artística e figurinos para teatro e cinema.
Carybé foi o artista que olhou, observou, entendeu e curtiu a América Latina e todo o seu mistério. Foi o artista que respeitou suas origens e no seu trabalho deu uma dignidade especial aos negros, aos índios, a pessoas humildes, sejam quais fossem as situações em que os colocava, e nunca se desviou do seu caminho para ingressar em movimentos artísticos e pretensas vanguardas. Registrou nas suas obras cenas e cenários muito brasileiros, como vilarejos de pescadores, bailarinas, saídas de igreja e pausas de vaqueiros. Sua obra levou a Bahia mundo afora. Por isso Jorge Amado fala de Carybé como "exemplo notável em sua arte, que recria a realidade do país e da vida popular que ele conhece como poucos, por tê-la vivido como ninguém".
As características da pintura de Carybé, são as cores vibrantes as formas marcadas pelo traço reto, caracterizaram sua obra em fonte singular no apanhado do cotidiano baiano.
No Brasil, Carybé deixou seus trabalhos em Salvador, Rio de Janeiro e São Paulo. Na Bahia, o artista aprendeu capoeira com o mestre Bimba, frequentou Candomblés, desenhou e pintou. Em 1951, o artista recebeu a Medalha de Ouro da 1ª Bienal Internacional de Livros e Artes Gráficas, pelas ilustrações do livro Bahia, Imagens da Terra e do Povo, de Odorico Tavares.
Por quase toda a sua vida, o pintor acreditou que o seu apelido Carybé provinha de um pássaro da fauna brasileira. Somente muitos anos depois, através do amigo Rubem Braga, descobriu que seu nome artístico significava 'mingau ralo', o que lhe rendeu diversas brincadeiras.
Uma parte da obra de Carybé se encontra no Museu Afro-Brasileiro de Salvador. São 27 painéis representando os orixás do candomblé da Bahia. Cada prancha apresenta um orixá com suas armas e animal litúrgico. Foram confeccionadas em madeira de cedro, com trabalhos de entalhe e incrustações de materiais diversos, para atender a uma encomenda do antigo Banco da Bahia S.A., que os instalou em sua agência da Avenida Sete de Setembro, no ano de 1968.
Jorge Amado, em O Capeta Carybé, traz muitos relatos sobre seu grande amigo Carybé, cuja riqueza de vida é quase ficção: aventuras de sobrevivência, casamento, andanças desde Buenos Aires, sua terra natal, até a Bahia.
Frequentador do terreiro de candomblé Ilê Axé Opô Afonjá, Carybé morreu aos 86 anos, no dia 1° de outubro de 1997, em Salvador, durante uma cerimônia no próprio terreiro. O artista deixou como legado mais de 5.000 trabalhos, entre pinturas, desenhos, esculturas e esboços.
"Um elemento principal na pintura de Carybé é o movimento, o ritmo, a surpresa, que ele quer que conviva com uma exigência do seu espírito: a do nada deixado por fazer, a do nada ambíguo, pouco reconhecível, da definição do pormenor, como a unir a serenidade da obra clássica à multiplicidade de sugestões e o descompromisso do esboço. A entrada em cena de relevos e incrustações - trazendo à tona outra face, a do experimentalista - estimula a tensão crescente, que começa a ser notada à medida que sua pintura vai se destacando dos bicos-de-pena, guaches e aquarelas e se dirigindo para os maiores formatos dos murais e para a escultura propriamente dita. (...) Como os muralistas mexicanos, Carybé, pode-se dizer, nunca pintou paisagem (...). É verdade que em seus quadros não enfatiza a injustiça social nem prega revolução, não estando os seus descamisados ali para mostrar ´una flacura esquelética´ nem ameaçar burgueses de ´grueso abdome´: Carybé não crê na pintura social. Não crê no social de nenhuma arte. (...) Mas sua maior e declarada influência no tempo em que desenhava para jornais foi George Grosz (...) 'Quatro nomes influenciaram minha arte: Van Gogh, Gauguin, Modigliani, Grosz e meu irmão Bernabó, que me ensinou o básico do desenho'.”
“Salvador é uma cidade que parece encomendada para artistas plásticos, para escritores, cineastas. Enfim, tudo lá é uma espécie de incubadeira para essa gente."
 Carybé.

Referência: - José Cláudio da Silva - In: FURRER, Bruno. Carybé. Salvador: Fundação Emílio Odebrecht, 1989.