O ser humano começou a dançar há muitos
milênios. A dança foi surgindo ao longo dos milênios a partir da linguagem dos
gestos e dos movimentos de nossos antepassados
Todas as danças antigas tendiam à união
cósmica, isto é, relacionavam-se com o cosmos, o universo. É assim que podemos
entender o processo de desenvolvimento da dança, que auxiliou e auxilia o homem
na expressão e no conhecimento da natureza e da cultura, da divindade e das
questões religiosas.
Com o tempo essas danças foram se tornando
cênicas, isto é, passaram a ser apresentadas ao público com uma função
diferente daquela de adorar os deuses ou a natureza.
Em cavernas como as da Serra da Capivara, no
Piauí (Brasil), de Altamira (Espanha) e de Lascaux (França) é possível observar
desenhos traçados nas paredes com cenas de pessoas em roda, correndo, saltando,
dançando. Vemos, também, nessas pinturas rupestres, homens vestidos com peles
de animais e imitando suas posturas.
Assim, podemos inferir que essas pessoas
reproduziam momentos da vida cotidiana em seus rituais. Suas danças simulavam a
caça e tinham um poder mágico. Era como se estivessem caçando de verdade.
Pode-se dizer que acreditavam que essas danças podiam atrair animais para a
caça.
As danças também teriam o poder de ajudar a
lidar com as forças da natureza, como as tempestades e os raios, por exemplo.
Quando deixou de ser nômade, o homem começou
a plantar e a criar animais para seu próprio consumo. Foi assim que surgiram a
agricultura e a pecuária.
Naquela época, a natureza era respeitada e
adorada como uma deusa, e o homem criava rituais e oferendas em forma de danças
que festejassem a vida, a morte, o sol, a lua, as estrelas, a terra e seu
preparo para o plantio, a celebração da colheita e a fertilidade dos rebanhos.
Imaginamos que as danças dessas épocas eram a
expressão do que o homem sentia em relação ao seu mundo. Segundo alguns
estudos, quando sentia alegria em viver, os movimentos eram vigorosos e
rápidos. A morte era mostrada com movimentos pesados e muito lentos. As danças
de plantio e colheita eram feitas batendo-se os pés no chão e com gestos de
mãos e braços que representavam os atos de espalhar a semente e recolher o
alimento plantado.
A
Dança no Egito:
Os egípcios dançavam por várias razões, mas principalmente como forma de
descobrir e entender o mundo à sua volta. Quando a noite chegava, fitavam o céu
e começavam a se movimentar e a dançar expressando o que viam, sentiam e
entendiam. Havia a Dança da Estrela da Manhã, que representava os estudos que
os sábios da época estavam desenvolvendo a respeito do conhecimento de
astronomia.
O ritmo das cheias e vazantes do rio Nilo
comandava os trabalhos de semeadura e colheita, que eram celebrados com as
Danças da Primavera.
Havia muitas outras danças relacionadas aos
deuses egípcios e por isso, chamadas de Danças Sagradas ou Divinas. Eram
executadas por um só dançarino ou por duplas do mesmo sexo. Podiam ser
acompanhadas por palmas, que marcavam o ritmo. Os dançarinos faziam muitas
acrobacias, como ficar com as mãos e pés no chão, com a barriga para cima e
fazendo um arco com as costas (ponte).
Outra dança representava a deusa Íris (deusa
da lua e da noite), à procura do corpo do irmão morto Osíris (deus dos campos e
cereais), para queimá-lo em uma pira (vaso em que se queimavam os cadáveres) e
assim fazê-lo ressuscitar para uma nova vida.
Para o deus Amon (deus do sol), acontecia a
procissão da “barca sagrada”, na qual bailarinos acrobatas executavam muitas
proezas incríveis, como hoje fazem os artistas de circo.
As Danças dos funerais eram cheias de
surpresa. No meio da cerimônia, quando menos se esperava, apareciam os
“mouros”, dançarinos que, em duplas, chegavam perto das pessoas fazendo gestos
simétricos como se fosse o espelho do outro. Os egípcios acreditavam que esses
movimentos assegurariam ao morto a passagem para uma nova vida.
Existiam também as Danças Profanas, não
sagradas, que aconteciam por ocasião dos banquetes em honra aos vivos ou aos
mortos e para entregar recompensas a funcionários, ou ainda, nomear alguém para
um cargo melhor.
Outras danças, chamadas de Danças Civis, eram
executadas por pessoas comuns, como os serviçais, mulheres do harém ou pessoas
ligadas ao palácio.
A
Dança na Grécia:
Na cultura grega, a dança ocupava um lugar muito importante. Em documentos e
livros podemos verificar como a dança estava presente na vida do cidadão grego
e era acessível a todos. Imagens mostram a dança nos ritos religiosos, nas
festas, no treinamento militar, na educação das crianças, na vida cotidiana.
A opinião de filósofos e poetas era muito
respeitada nessa cultura. Segundo o filósofo Sócrates (470-399 AC), a dança formava um
cidadão completo e nunca era tarde para se aprender a dançar.
Platão (428-347 AC) também considerava a
dança como parte da educação dos cidadãos. Dizia que ela servia para santificar
e curar os corpos, além de trazer mais agilidade, beleza e sabedoria.
Os cidadãos gregos acreditavam no poder das
danças mágicas e dançavam para seus inúmeros deuses. Um dos mais conhecidos é o
deus Dionísio, deus da fertilidade e do vinho. Acreditavam que a orquestra
(representação que incluía música e dança) nasceu com os agricultores, que
traziam a uva para a praça, no centro de Atenas, para fazer a pisa. Enormes cachos de uva eram esmagados com os
pés, em um movimento coordenado.
As Danças guerreiras faziam parte dos
treinamentos militares. De difícil execução, tinham movimentos muito atléticos.
Sabemos que os dançarinos usavam, em algumas dessas danças, saltos muito altos
e máscaras.
Dança
na Índia: Na Índia é
importante notar que, dependendo da região, a tradição das danças foi passada
de geração a geração e se conserva até hoje. E elas são praticamente imutáveis.
Uma das danças mais importantes e mantidas
até hoje é a Dança de Shiva (deus da dança), que representa a criação do
universo e o cuidado com o mundo para que ele esteja sempre em harmonia.
Algumas danças indianas são chamadas de
Danças Ragas. Cada Raga tem suas cores e representa certos poemas que se
referem a lendas que falam das estações do ano ou das horas do dia. Essas
lendas e seus personagens são representados em algumas pinturas hindus.
Os movimentos simétricos do corpo são muito
marcantes nas danças indianas. O espaço é bem definido, pois a distância entre
o centro do palco e os lugares onde o dançarino deve executar seus movimentos é
medida de maneira rigorosa, assim como a posição dos músicos.
Os gestos são chamados de Mudras e também são
muito presentes em todas as danças. A eles é atribuído um poder espiritual. Um
exemplo, é o gesto feito com as mãos que simboliza a flor de lótus. Totalmente branca,
essa flor nasce na lama e significa a transformação da sombra em luz, o
desenvolvimento pessoal e o contato com o divino.
A Dança
na Idade Média: Durante
a Idade Média, aproximadamente do século V até o século XIV, o cristianismo
tornou-se a força mais influente na Europa. Foram proibidas as danças teatrais,
por representantes da Igreja, pois algumas delas apresentavam movimentos muito
sensuais.
Mas os dançarinos ambulantes continuaram a se
apresentar nas feiras e aldeias, mantendo a dança teatral viva. Em torno do
século XIV, as associações de artesãos promoviam a representação de elaboradas
peças religiosas, nas quais a dança era uma das partes mais populares.
Quando ocorreu a
peste negra, uma epidemia que causou a morte de um quarto da população, o povo
cantava e dançava freneticamente nos cemitérios; eles acreditavam que essas
encenações afastavam os demônios e impediam que os mortos saíssem dos túmulos e
espalhassem a doença. Isto ocorreu no século XIV.
Durante toda a Idade
Média, os europeus continuaram a festejar casamentos, feriados e outras
ocasiões festivas com danças folclóricas, como a dança da corrente, que começou
com os camponeses e foi adotada pela nobreza, numa forma mais requintada, sendo
chamada de carola. No final da Idade Média a dança tornou-se parte de todos os
acontecimentos festivos.
(FAHLBUSCH. Hannelore. Dança: moderna e
contemporânea. Sprint. Rio de Janeiro 1990.)