No Brasil, o
Modernismo tem início com a realização da Semana de Arte Moderna no Teatro
Municipal de São Paulo, em fevereiro de 1922. Idealizada por um grupo de
artistas, a Semana de Arte pretendia colocar a cultura brasileira a par das
correntes de vanguarda do pensamento europeu, ao mesmo tempo que pregava a
tomada de consciência da realidade brasileira.
A idéia de realizar uma semana de arte partiu do pintor Di
Cavalcanti. Inicialmente, o objetivo era modesto: uma pequena exposição de arte
moderna na livraria e editora O Livro, em São Paulo. Nessa livraria, os
modernistas costumavam reunir-se para palestras, declamações e mostras de
trabalho.
Por intermédio do
escritor Graça Aranha, Di Cavalcanti conhece Paulo Prado, um homem culto, muito
rico, de formação européia e bom gosto artístico. Este se anima com a idéia e
resolve ajudar. A adesão de pessoas de destaque da alta sociedade paulistana
que resolvem prestigiar o evento aumenta ainda mais o interesse da imprensa em
divulgá-lo.
Escolhe-se,
então, um novo local para a realização da semana: o majestoso Teatro Municipal
de São Paulo, que tinha sido inaugurado em 1912 e era o reduto artístico da
aristocracia da cidade.
A Semana de Arte
Moderna consistiu, na realidade, em três noitadas (13, 15 e 17 de fevereiro).
Mas o espírito moderno já se enraizava em várias obras, artigos e manifestos
desde 1917.
No dia 13, Graça
Aranha abre a Semana com a palestra “Emoção estética na obra de arte”, propondo
a renovação das artes e das letras. Vários textos modernistas são declamados em
seguida. Depois, apresenta-se uma composição musical de Villa-Lobos e uma
conferência de Ronaldo de Carvalho sobre a pintura e a escultura moderna no
Brasil. O programa se encerra com a execução de algumas peças musicais.
O segundo
espetáculo, em 15 de fevereiro, anunciava como grande atração a pianista Guiomar Novaes, que, apesar do protesto,
compareceu e se apresentou. Entretanto, a “atração” foi a conferência de
Menotti del Picchia sobre a arte e estética, ilustrada com a leitura de textos
de Oswald de Andrade, Mário de Andrade e Plínio Salgado, entre outros. A cada
leitura o público se manifestava com miados e latidos. Ronald de Carvalho lê
"Os sapos”, de Manuel Bandeira, numa crítica aberta ao modelo parnasiano;
o público faz coro, ironizando o refrão “foi! não foi! foi!...”. No intervalo,
Mário de Andrade lê, nas escadarias do teatro, trechos de A escrava que não é
Isaura”.
A 17 de
fevereiro, realizou-se o “terceiro e último grande festival” da Semana de Arte
Moderna, com apresentação de músicas de Villa-Lobos.
ARTISTAS:
TARSILA DO AMARAL
Tarsila do Amaral
pintou o Abapuru em 1928 para fazer uma surpresa de aniversário ao marido, o
escritor Oswald de Andrade. Só que ela não imaginava a polêmica que essa obra
provocaria entre os artistas da época nem que ela ajudaria a trazer grandes
mudanças na arte brasileira.
Tarsila Amaral
foi um dos nomes mais importantes do movimento modernista brasileiro. Ela
nasceu em 1886, na Fazenda São Bernardo, em Capivari, cidade do interior do
Estado de São Paulo. Descendente da aristocracia rural paulista, cresceu
livremente nas fazendas de sua família.
Aos 16 anos, ela
foi estudar em Barcelona, na Espanha. Fez sonetos, composições para piano e
cópias desenhadas de “santinhos”, muito elogiadas por seus colegas de escola.
Ao retornas da
Europa, em 1906, casou-se, de acordo com a tradição da época, com pretendente
escolhido por seu pai. Desse casamento nasceu Dulce. A diferença cultural do
casal era grande e Tarsila, dona de uma personalidade forte e decidida,
separou-se. Alguns anos depois, conseguiu a anulação de seu casamento.
Passando algum
tempo, Tarsila resolveu seguir sua vocação artística. Começou seus estudos pela
escultura e modelagem. Em seguida, estudou desenho e pintura com o artista
acadêmica Pedro Alexandrino, criando naturezas mortas e algumas paisagens.
Passou um rápido
período com os impressionistas, aprendendo com eles a usar as cores puras.
Tarsila passou a
integrar o mundo artístico ao ser aceita no Salão da Sociedade dos Artistas
Franceses, em 1922, conforme os jornais da época.
Tarsila
desembarcou no Brasil em junho, quatro meses após a Semana de Arte Moderna, um
acontecimento cultural de que participaram vários artistas e intelectuais.
Apesar de não ter
participado desse evento, Tarsila já conhecia as idéias que foram ali
apresentadas e concordava com elas.
Ainda em 1922,
aconteceu em São Paulo o I Salão da Sociedade Paulista de Belas Artes. Dentre
os vários artistas e expositores, Tarsila destacou-se pela originalidade com
sua obra “A espanhola”.
No final de 1922,
ela partiu novamente para Paris e nesse novo período de estudo na Europa, a
vida cultural da artista foi intensa voltando ao Brasil em 1924.
FASE PAU-BRASIL
Nessa fase, as
pinturas de Tarsila exaltavam a natureza tropical.
Obras: “Morro da
favela”, “A gare”
FASE
ANTROPOFÁGICA
Nessa fase ela
utiliza tudo o que aprendeu na Europa e transforma em arte tipicamente
brasileira.
Obras: “Urutu”,
“O lago”, “A Lua”, “Sol poente”.
FASE SOCIAL
Obras:
“Operários” e “2° classe” (representou questões sociais retratando pessoas
tristes e oprimidas, a miséria, a dor e a desigualdade das raças.
Executou dois
painéis, um a convite do governo do Estado de São Paulo e outro, encomendado
pela antiga editora Martins, para homenagear o amigo Mário de Andrade.
Tarsila morreu em
1973, aos 86 anos. Foi símbolo da arte moderna brasileira, deixando para nosso
país um exemplo de valorização da amizade, do patriotismo e da cultura ao
misturar em suas obras as cores caipiras, as lendas, os amigos e a sociedade.
CANDIDO PORTINARI
Muitos artistas
dedicaram a vida ao registro da cultura de seu povo e de seu país.
No Brasil,
Candido Portinari foi um deles. Sua extensa obra nos faz viajar no tempo,
através da história.
A obra desse
artista sofreu forte influência de seus primeiros anos de vida. Sua querida
Brodosqui, cidade do interior paulista onde nasceu, em 1903, seria lembrada em
suas pinturas.
Desde pequeno,
Candinho, como era chamado carinhosamente, gostava de desenhar e de pintar. Aos
15 anos foi estudar na Escola de Belas Artes, no Rio de Janeiro. Como possuía
pouco dinheiro, foi morar numa pensão seu quarto era na verdade, um banheiro!
E, assim,
Portinari ia vivendo grandes dificuldades financeiras, até mesmo para pagar um
almoço. Mas sua vontade de vencer era tão forte, que ele superava tudo.
Aos 20 anos,
entre 1923 e 1924, pintou “Baile na roça”, que foi reconhecida como sua
primeira obra de arte e foi a primeira que ele vendeu.
No início de
1930, na França, Portinari conheceu Maria Victória, jovem uruguaia que morava
em Paris. Casaram-se e viveram na Europa por mais um ano.
Portinari também
apreciava outros artistas como Matisse, que usava cores puras; o alemão Emil
Nolde e o italiano Amedeo Modigliani.
As técnicas de
Van Gogh e de Cézanne foram profundamente esmiuçadas por ele.
A saudade do
Brasil, porém, crescia dia-a-dia, e Portinari decidiu rever sua gente e sua
terra natal, trazendo Maria sua grande paixão.
De volta ao
Brasil trabalhou como nunca. Pintou diversas telas sobre sua infância e
Brodósqui. A obra “Café” foi pintada nessa época onde predominou a cor marrom.
Sua pintura foi
fortemente influenciada por Pablo Picasso após conhecer o famosa “Guernica”.
Portinari chocou o público ao pintar os santos com expressão sofrida,
angustiada pelos problemas humanos.
Sua obra
“Lavrador de Café”, é uma das mais famosas que pintou. Portinari retratou
força, movimento e desafio.
A partir de 1936,
Portinari desenvolveu a pintura de murais. Naquela época, o governo brasileiro
costumava encomendá-los para serem colocados em prédios públicos.
Nesse ano, pintou
a afresco os murais do prédio do Ministério da Educação e Saúde, no Rio de
Janeiro, e os temas foram os ciclos econômicos do Brasil. Pintou o pau-brasil,
a cana-de-açúcar, o gado, o ouro, o fumo, o algodão, a erva-mate, o café, o
cacau, o ferro, a carnaúba e a borracha.
Os temas sociais
estavam presentes na fase muralista de seu trabalho. Portinari afirmava que “a
pintura mural é a mais adequada para a arte social, porque o muro geralmente
permanece à coletividade e ao mesmo tempo conta uma história a um maior número
de pessoas”.
Em 1939, pintou
murais para o pavilhão do Brasil na Feira Mundial de Nova York.
Já famoso por sua
pintura muralista, em 1943 começou a pintar os painéis da Série Bíblica. Neles,
o pintor expressa sua amargura diante da injustiça.
A convite do
arquiteto Oscar Niemeyer, em 1944 iniciou as obras de decoração da Igreja de
São Francisco de Assis, na Pampulha, em Belo Horizonte.
A partir de 1940,
fez uma série de obras tratando de temas históricos.
Nessa fase retoma
o trabalho em murais, expressando por meio deles seu olhar sobre os fatos da
história do Brasil.
Seu painel
“Primeira missa no Brasil”, apresenta características mais geométricas,
utilizando retas paralelas e diagonais, para provocar efeitos especiais.
Em 1956 terminou
dois painéis para a sede da (ONU), em Nova York: “Guerra e Paz”
Nessas obras
utilizou poucas cores, linhas retas e formas geométricas, com figuras
sobrepostas, sem preocupar-se com perspectiva e profundidade.
A obra de
Portinari não pode ser rotulada: apresenta contradições e soluções que superam
o artista comum. Não pode ser simplesmente enquadrada em um contexto artístico.
Ela deve ser entendida com toda a sua força dramática expressa em cada
pincelada.
BIBLIOGRAFIA
PROENÇA, Graça. História da Arte. Ática.
São Paulo, 2000