Refletindo sobre a Arte
Entre todas as linguagens, a arte
é a linguagem de um idioma que desconhece fronteiras, etnias, credos, épocas.
Seja a linguagem das obras de arte daqui, seja de outros lugares, de hoje,
ontem, ou daqueles que estão por vir, traz em si a qualidade de ser a linguagem
cuja leitura e produção existe em todo o mundo e para todo mundo.
Pensar a arte é, então, pensar na
leitura e produção na linguagem da arte, o que, por assim dizer, é um modo
único de despertar a consciência e novos modos de sensibilidade. Isso pode nos
tornar mais sábios, seja sobre nós mesmos, o mundo ou as coisas do mundo, seja
sobre a própria linguagem da arte.
Como toda e qualquer linguagem, a arte tem códigos, e cada
linguagem da arte tem seu código, isto é, um sistema estruturado de signos.
Assim, o artista, no seu fazer artístico, opera com elementos da gramática da
linguagem da arte com liberdade de criação, utilizando-os de forma incomum.
Desde a época em que habitava as cavernas, o ser humano
vem manipulando cores, formas, gestos, espaços, sons, silêncios, superfícies,
movimentos, luzes, etc., com a intenção de dar sentido a algo, de comunicar-se
com os outros.
A Arte é uma forma de criação de linguagens – a linguagem
visual (pintura, desenho, escultura, gravura, fotografia, cinema, etc), a
linguagem musical (o canto e a música)e a linguagem cênica (teatro e dança),
entre outras.
Toda linguagem artística é um modo singular de o homem
refletir o seu estar-no-mundo. Quando o homem trabalha nessa linguagem, seu
coração e sua mente atuam juntos em poética intimidade.
As obras de arte expressam um pensamento, uma visão do
mundo e provocam uma forma de inquietação no observador, uma sensação especial,
uma vontade de contemplar, uma admiração ou uma comunicação com a sensibilidade
do artista. A esse conjunto de sensações chamamos de experiência estética.
O gosto e sensibilidade para apreciar a arte variam de
pessoa para pessoa, de idade para idade, de região para região, de sociedade
para sociedade, de época para época. Assim, as manifestações artísticas trazem
a marca do tempo, do lugar e dos artistas que a criaram, pois refletem essa
variação no conceito de beleza e na função do objeto artístico.
A arte é necessária:
de tudo que
observamos, pensamos e refletimos podemos concluir que a arte tem várias
funções na sociedade e na cultura. Entre as funções da Arte, as principais são:
- Refletir, pensar, questionar: Como nunca pensei nisso?
Como as coisas podem se vistas assim? O que isso representa? O que me diz?
- Distrair: que agradável observar uma
obra tão bem feita!
- Usufruir do prazer estético: Como o artista soube usar bem
o seu material! Que efeito interessante! Que idéia bem realizada!
- Fugir da realidade: E se as coisas fossem
assim?
- Diminuir a solidão: Ele sente a mesma sensação
que eu!
- Entender o ser humano: Como esse artista via o
mundo de maneira diferente!
- Conhecer o mundo: Quer dizer que essa forma de comunicação
representa uma época? Um período estético?
- Organizar, compreender os próprios sentimentos: que emoção estranha
sinto com esse quadro! Será que estou gostando? Será que estou assustado com a
imaginação do artista? Porque esse tema me incomoda?
- Vivenciar outras realidades: Esse quadro parece que saiu de um
pesadelo! Como ele pensou nisso?
- Conhecer outra forma de ver o mundo: E eu que nunca tinha pensado
assim!
A experiência estética que a arte
proporciona é uma forma de felicidade muito especial, porque é transformadora.
Ela nos modifica pela emoção que proporciona. Para interagir e apreciar a arte
usamos: experiências anteriores, percepção, habilidades comunicativas, visuais
e espaciais; informações; sensibilidade; imaginação. Assim, quanto mais
desenvolvemos estas capacidades, competências e habilidades mais nos aproximamos
do mundo da arte.
Para entender a arte dependemos de algumas habilidades:
1. Observação: é uma habilidade que
depende de olhar com interesse dirigido, examinar minuciosamente, focalizar a
atenção, concentrar o pensamento e os sentidos com vontade de ver, de aprender,
de perceber os detalhes significativos. É como usar uma lente de aumento sobre
algum objeto.
2. Memorização: a memória visual é a
capacidade de registrar com certa precisão aquilo que foi observado, de forma
que, passando algum tempo, seja possível relembrar o que foi visto.
3. Análise
e Síntese: A observação e a memória trabalham juntas nos procedimentos de
análise. Analisar é desenvolver e aprofundar a observação. De uma percepção
mais geral, o analista segue para a decomposição das partes do objeto
observado. Para isso utiliza-se de um método apropriado a cada objetivo. O
método é uma espécie de roteiro a ser seguido na análise dos elementos que
compõem o objeto.
Alguns exemplos desses elementos:
cor, forma, textura, durabilidade, utilidade, etc.
Todos esses fatores se combinam e
são orientados pelo gosto pessoal no momento em que precisamos analisar algum
objeto. Usamos então esses elementos como argumento, ou seja, para fundamentar
apreciação do tal objeto em análise. Essa análise leva a uma conclusão que
chamamos síntese: é a essência da observação do objeto.
4. Orientação Espacial / Sentido de dimensão
Para utilizar a orientação
espacial precisamos observar os espaços, memorizar direções e posições
relativas a outras, bem como fixar pontos de referência para facilitar a
localização.
Outra habilidade associada a essa
orientação espacial é a percepção das dimensões, dos volumes, ou seja, do
tamanho dos objetos.
O sentido da dimensão é a
capacidade de avaliar a olho nu as dimensões dos espaços, das construções, dos
objetos e de confrontá-los considerando as suas proporções.
5. Pensamento Lógico: Focalizamos as habilidades que nos asseguram uma
percepção mais exata da realidade: a observação, a análise, a síntese, a
orientação e o sentido de dimensão. Todas elas estão relacionadas à percepção
da realidade. Dependem muito, portanto, do pensamento lógico: Vamos do geral
para o particular, do particular para o geral, outra vez do geral para o
particular e formulamos uma síntese do todo. Essa síntese tem explicação,
fundamento, justificativa, argumentos que conduzem o pensamento numa
determinada direção.
6. Pensamento Criativo: caminha por trajetos diferentes dos percursos do nosso
pensamento lógico. Mais isso não quer dizer que a imaginação seja autônoma, que
não precise de informação.
Quanto mais conhecemos, mais nossa
imaginação tem material para trabalhar. Os artistas são, em geral, pessoas bem
informadas, que conhecem profundamente a técnica que usam e o mundo que querem
representar ou expressar por meio de suas criações. Quando os artistas
trabalham com a imaginação estão também trabalhando com as informações que têm
da realidade e de alguma forma estão fazendo alterações surpreendentes,
engraçadas, assustadoras, envolventes, sobre estas informações.
Geralmente associamos a imaginação
ao devaneio (sonho), à divagação (“viagem”) e à distração, mas o testemunho de
artistas é de que a imaginação é uma forma de trabalho. Às vezes vai por
caminhos diferentes do lógico, da razão, do raciocínio, mas nem por isso deixa
de ser um trabalho: um trabalho com a liberdade de pensamento.
Texto inspirado no livro
“Explicando a Arte”, de Jô Oliveira e Lucília Garcez.