Quando lê um
romance você viaja pelo mundo do autor: imagina aquelas pessoas que ele
descreve, as paisagens, os ambientes. Já quando assiste a uma peça teatral,
você não precisa imaginar nada. As personagens e os cenários estão
materializados no palco, diante de seus olhos.
Como na literatura,
o texto é essencial no teatro, mesmo que os atores não abram a boca (nesse caso
eles estariam representando com gestos uma história que teve de ser escrita por
alguém).
Mas, ao contrário
do que acontece com a literatura, no teatro o texto não é tudo. Você pode muito
bem ler um livro, sozinho num canto, e imaginar à vontade. Também pode ler uma
peça, sozinho do mesmo jeito, porém esta leitura solitária vai lhe dar apenas uma
vaga ideia do que você veria no teatro. Porque uma peça só se realiza, só ganha
vida, quando chega ao palco.
Quando escreve para
o teatro o autor já está pensando em todas as pessoas que serão necessárias
para dar vida a seu texto. Seu trabalho de criação não termina no final da
história, como num caso de um romance. O autor de um romance precisa de um
editor para publicá-lo, de um livreiro para vendê-lo e de um leitor para lê-lo,
porém o que ele apresenta é uma obra acabada.
O autor teatral,
também chamado dramaturgo, precisa de muito mais gente; na verdade precisa de
todo um batalhão de profissionais para mostrar o que escreveu. São atores,
diretor, produtor, cenógrafo, coreógrafo, figurinista, iluminador, sonoplasta,
contra-regras... Sem falar no público. Mas... vamos por partes.
O enredo e o tema
das produções teatrais, em geral, tratam de assuntos e fatos que podem alegrar
ou entristecer o público de acordo com o gênero que o autor utiliza para criar
suas histórias.
A grande capacidade
de transformar-se em um personagem criado pelo escritor faz com que o ator
adquira, com o tempo, iniciativas pessoais para interpretar diversos
personagens.
Atores e atrizes,
no palco, representam personagens que oferecem informações sobre as diferentes
manifestações da história da humanidade. No teatro, ator e espectador tornam-se
cúmplices, compartilham ideias e tornam real o mundo imaginário.
Entretanto, seja
qual for o gênero, a época ou o local, para que exista o teatro é necessário o
envolvimento de todos estes profissionais acima citados. Embora nosso objetivo
não seja tratar da teoria teatral ou da formação de atores, é importante saber
que muitos profissionais trabalham cuidadosamente em cada detalhe da peça
apresentada.
Os passos do processo
Depois de escrever
uma peça, o dramaturgo a leva para uma pessoa ligada ao teatro, geralmente um
ator de prestígio ou um diretor. Essa pessoa lê o texto. Se não gostar,
devolve-o, e o autor terá de procurar outros interessados. Se gostar, vai
tratar de montá-lo, ou seja, de encená-lo para uma plateia, de preferência
lotada e empolgada.
Suponhamos que essa
pessoa é o diretor. Ao ler a peça, ele já fica pensando “Puxa, Fulano vai ficar
genial nesse papel! E esse personagem
aqui é ideal para Beltrana”. O diretor procura os atores que gostaria de ver
naqueles papéis e entrega uma cópia do texto para cada um.
Digamos que tudo
corre às mil maravilhas. Os atores adoram a obra, identificam-se com suas
personagens e no momento não têm nenhum compromisso que os impeça de participar
do projeto.
Agora precisam de
um produtor, de alguém que banque o espetáculo, quer dizer, que forneça o
dinheiro para pagar despesas como a aquisição do material que será usado em
cena, o aluguel do teatro, a contratação dos profissionais indispensáveis à
montagem, a compra de espaço para publicidade nos jornais, revistas e TV, a
confecção dos programas, a filmagem para registro e divulgação... e tantas
outras coisas.
Mais uma vez dá
tudo certo, e o trabalho pode começar. Primeiro se faz uma leitura dramática: o
diretor se reúne com o elenco em torno de uma mesa, e cada ator lê sua parte,
já representando com a voz. O diretor acompanha a leitura atentamente,
intervindo sempre que acha necessário para corrigir alguma fala. Encerrada a
leitura dramática, iniciam-se os ensaios, com os atores mergulhando de corpo e
alma na interpretação de seus personagens. O diretor tem a visão geral do
espetáculo e, para conseguir o resultado que deseja, participa ativamente dos
ensaios, representando de vez em quando para mostrar a cada integrante do
elenco como deve atuar neste ou naquele momento. Alguns diretores simplesmente
impõem sua opinião, porém a maioria conversa muito com os atores, explica-lhes
o que tem em mente, escuta o que eles acham e todos chegam a um acordo (ou pelo
menos é o que se espera).
Mas não é só com os
atores que o diretor dialoga. Ele também expõe seus objetivos aos membros da
equipe, explicando o que espera de cada um. E, como nem sempre as opiniões
sobre o espetáculo coincidem, seguem-se as discussões e as trocas de ideias.
Tudo acertado, o cenógrafo trata de criar os cenários adequados; o iluminador
estuda as várias formas de usar a luz e atualmente é auxiliado pelo
profissional responsável pela tecnologia, buscando efeitos visuais e projeções
a serem feitas na peça. Além deles, o sonoplasta define a trilha sonora; o
figurinista concebe as roupas que cada personagem irá vestir; o coreógrafo cria
as coreografias que serão utilizadas; no período de temporada da peça o
contra-regra é responsável por todos os materiais cênicos que serão utilizados
enquanto a camareira toma conta de todos os figurinos, ou seja, todas as roupas
que serão utilizadas na peça.
Depois de muito
ensaio e muito esforço, a peça está pronta para ser apresentada ao público. Se
atrair um número grande de expectadores, será um sucesso de bilheteria, e a
venda dos ingressos não só pagará as despesas que não foram cobertas pelo
produtor, como ainda renderá bons lucros. Porém, infelizmente não é isso que
acontece com a maioria dos grupos de teatro do Brasil. Em geral, por falta de
produtor, as montagens são escassas e, quando acontecem, passam por inúmeras
dificuldades, inclusive a busca de patrocínios diversos ou entrega de projetos
para os editais específicos para teatro, para que possam cobrir pelo menos as
despesas. Em Salvador, o teatro vem aos poucos conquistando o público com
excelentes montagens e atores que buscam uma maior visibilidade na esperança de
serem reconhecidos por diretores do sul do país que possam incluí-los no elenco
das novelas, como tem acontecido com alguns que já fazem sucesso nas emissoras
do eixo Rio - São Paulo. Mas isso é outra história e estudaremos em outro
momento.
Agora, um pouco de história: como surgiu o teatro
Os gregos tinham
muitos deuses, um para cada coisa: um para proteger as plantações, um para
controlar os mares, um para favorecer a sabedoria, e por aí afora.
Mas havia um deus
muito especial, que inventou o vinho. Ele se chamava Dionísio (Baco para os
Romanos). Diz a lenda que um dia estava descansando numa beira de estrada
quando viu uma cabra comendo umas frutinhas redondas. Daí a pouco a cabra
começou a pular e a berrar feito uma doida. Dionísio pensou: “Aí tem coisa!” E
foi lá, pegou uma porção daquelas frutinhas, amassou bem e bebeu. Não deve ter
sido bem assim, porque sabemos que entre amassar as uvas e beber o vinho é
preciso fazer muita coisa e esperar um bom tempo. Mas lenda é lenda e não tem
nenhum compromisso com a realidade.
O caso é que os
devotos de Dionísio viviam em festa, bebendo, comendo, dançando e cantando. Era
uma farra.
Um dia, conta a
lenda, durante uma dessas festas apareceu um indivíduo chamado Téspis. Ele
chegou numa carroça coberta onde guardava uma porção de máscaras, perucas,
roupas. Então, enquanto os devotos estavam entretidos na celebração de
Dionísio, lá dentro da carroça Téspis começou a se transformar em outra pessoa,
num personagem: cobriu o rosto com uma das máscaras, botou uma bela peruca na
cabeça e vestiu um manto todo bordado.
Quando acabou de se
arrumar, levantou a cobertura da carroça e deu um berro. Silenciaram os risos,
os gritos, a cantoria, as danças. Todo mundo parou e começou a prestar atenção
ao que fazia aquela figura esquisita.
Foi então que
Téspis falou: “Eu sou Dionísio. Escutem bem a minha história”. E começou a
contar a lenda do deus do vinho, fingindo sentir todas as emoções que o próprio
Dionísio teria sentido durante suas andanças pelo mundo das criaturas mortas.
Assim, contam que
Téspis criou o teatro, no século VI antes de Cristo. Com o tempo ele foi se
aperfeiçoando: ampliou os assuntos que abordava, passou a escrever suas peças,
aprendeu a trocar rapidamente de máscara, roupa e peruca e chegou a representar
sozinho todos os personagens de uma mesma peça. E, sempre viajando com sua
carroça, levou sua arte a praticamente todas as regiões da Grécia.
O teatro do lado de lá do mundo: o teatro oriental
No oriente existem
formas maravilhosas de fazer teatro. Algumas delas são típicas do Japão, como o
teatro Nô e o Kabuki. Tanto um como o outro são encenados da mesma forma há
mais de mil anos. A natureza é o tema principal de suas peças, que também
contam histórias do folclore de seu povo. As roupas são muito bonitas e ricas e
os atores usam bastante maquiagem. Da mesma forma que o teatro grego, só os homens
podem atuar. Os papéis também são fixos, isto é, não mudam. Quando uma pessoa
vai assistir a uma peça Nô ou Kabuki, não vai para ver a história, que ela já
sabe qual é, mas para ver o trabalho dos atores. Muitos representam um único
papel a vida inteira!!!
O teatro no século XX
A partir da virada
do século XX, surgiram inúmeras tendências. O teatro de Eugene Ionesco foi um
dos mais transformadores desse século. Possuía um estilo independente que
renovou o Surrealismo e se fundamentava no inconformismo das convenções
sociais. Com a estreia de “A cantora careca” em 1949, inaugurou um tipo de
teatro, que mais tarde, à revelia dos seus criadores, foi chamado de Teatro do Absurdo, que refletia, entre
outras coisas, a destruição de valores e crenças, após a Segunda Guerra
Mundial. Esse teatro também se mostrava anti-realista e sem lógica,
apresentando a linguagem como um grande obstáculo entre os seres humanos.
Ionesco escreveu várias peças como: “A Lição”, “As cadeiras”, “O rinoceronte”,
“O rei está a morrer” e “O peão do ar”, entre outras. Além de Ionesco,
destacaram-se outros autores, como Samuel Beckett, que escreveu a peça
“Esperando Godot”, em que dois vagabundos conversam esperando um misterioso
Godot, que nunca aparece.
Falar em mudanças
radicais sem falar de Bertold Brecht seria de certa forma ignorar reformas
teatrais que exibem grande preocupação social, mostrando o ser humano em luta
desigual com a sociedade industrial. Brecht queria transmitir conhecimento e
não vivências em seu teatro que se caracteriza, como em outros campos
artísticos, pela constante atitude de negação, de revolta e de renovação.
O ponto mais
importante da teoria Brechtiana é a visão da peça teatral como um processo que
se instaura contra a sociedade, no qual tudo deve servir de depoimento e
argumentação, e deixando ao espectador o papel de juiz. Opondo-se radicalmente
à empatia entre ator e público ou entre ator e personagem, ele exige que os
espectadores utilizem plenamente seu aparelho mental e dessa forma possam
elaborar uma atitude favorável à transformação da realidade que lhes foi
apresentada no palco. Tal apresentação deve ser feita a partir de todos os
ângulos possíveis da realidade, de forma que o espectador apreenda todas as
formas pelas quais as coisas lhe são mostradas na vida real. Os atores devem
demonstrar claramente que estão desempenhando um papel, e graças ao efeito de
distanciamento, comunicar ao público a situação do personagem e do mundo.
Esse caráter
revolucionário do teatro do século XX, que aparece tanto de forma expressiva no
teatro europeu, está muito ligado à própria situação da época – transformações
sociais e econômicas, duas guerras mundiais, queda da burguesia e ascensão do
proletariado. Assim, o teatro expressou artisticamente, essa nova era de incerteza,
descrença e desejo de mudança. As peças de Brecht rejeitam os padrões e valores
vigentes inovando para acordar a plateia passiva.
Fontes:
FEIST, Hildegard.
Pequena viagem pelo mundo da arte. Moderna. 2.ed.São Paulo, 2005
_____________.
Pequena viagem pelo mundo do teatro. 1ed. Moderna. São Paulo, 2005.