"A arte é a contemplação: é o prazer do espírito que penetra a natureza e descobre que ela também tem uma alma. É a missão mais sublime do homem, pois é o exercício do pensamento que busca compreender o universo, e fazer com que os outros o compreendam." (Auguste Rodin)

segunda-feira, 8 de outubro de 2018

1ª Série - DANÇAS ANTIGAS - 3ª Unidade - 2018


A dança apareceu no mundo desde tempos imemoráveis – pré-históricos – e é tão velha como a própria vida humana. Nasceu desde as primeiras manifestações da comunhão espiritual (mística) do homem com a Natureza, como expressão das emoções primitivas do “homo-sapiens” – era a dança-ritmo.
Para manifestar suas emoções e expandi-las exteriormente, o homem primitivo recorreu naturalmente ao movimento, ao gesto, que é a dança em sua forma mais primitiva e elementar.
Antes de usar a palavra, o homem já se servia do movimento corporal, gesto primitivo, pressionado pelo ritmo natural de suas emoções.
Por isso, a dança tem os elementos gerais que se manifestam nas danças de todos os povos, e os elementos específicos que diferenciam as danças dos diversos povos.
Na vida do homem primitivo a dança antecipava todos os acontecimentos: nascimento, casamento, mortes, caça, guerras, iniciação dos adolescentes, doenças, cerimoniais tribais, vitórias, paz, primavera, sementeira, colheita, festa do sol, da lua, da fertilidade, visando sempre o mesmo fim: a vida, a saúde, a fertilidade, a plenitude da força.
Este sentido de dança como força mágica, que antecipava a todos os acontecimentos individuais ou coletivos dos homens primitivos – pré-históricos – que viveram ou vivem em constante comunhão espiritual com a Natureza, pouco a pouco foi se acabando...foi se extinguindo no tempo e no espaço.
Já a partir da idade da pedra, a dança tornou-se uma obra de arte, começando a adquirir mais importância o elemento estético (a arrumação dos passos, a beleza). E quando as altas civilizações fizeram da dança uma simples manifestação estética, quando a dança tornou-se um objeto de espetáculo, agindo somente sobre os homens e não mais sobre os espíritos e os deuses, a sua força e potencialidade mágicas desapareceram definitivamente...
E, ao perder essa força mágica, que permitia ao homem elevar-se acima da vida e adquirir o poder sobre-humano de intervir na própria vida da Natureza, a dança perdeu também o seu impulso criador, transformando-se de dança-mágica em dança arte.
A dança representou um fator de alta importância no decorrer do desenvolvimento progressivo da humanidade. Pode-se observar que a oposição entre os movimentos “amplos” e os “estreitos”, marca, inclusive, o contraste da própria natureza dos sexos.
Nas danças antigas o homem aparece com mais aptidão (facilidade) para os movimentos amplos - saltos, passos grandes, etc. – enquanto a mulher, em geral, surge com inclinação para os movimentos estreitos – curtos, pequenos, em contato contínuo com o solo, opondo à audácia e ao dinamismo másculos, a prudência, a calma, a graça harmoniosa. Nestas danças, enquanto o homem saltava corajosamente no ar, a mulher apenas deslizava em pequenos passos pelo chão e tentava se elevar sobre os pés.
Quanto mais um povo está ligado ao regime matriarcal (importância maior da mulher) e ao cultivo da terra, mais a sua dança é calma, pausada, composta de movimentos estreitos. Pelo contrário, quanto mais um povo pertence ao regime patriarcal (importância maior do homem) e a sua vida nômade (caçando e mudando de local, sem se fixar no solo) mais a sua dança é composta movimentos amplos em geral.
Daí abre-se a interessante perspectiva de relações entre o caráter dos movimentos de dança e o desenvolvimento social e cultural dos povos.
O primeiro tipo de expressão coreográfica que se tem notícia é representado pela dança que segue estritamente a própria Natureza. Por meio de gestos ensaiados (pantomima), a dança antecipava o acontecimento desejado, influenciando, deste modo, a realização do que eles desejavam. Assim, por exemplo, a dança da caça previa o feliz acontecimento de conseguir caçar o animal desejado; a dança imitando os animais auxiliava a domá-los. Este tipo de expressão coreográfica pode-se denominar de dança figurativa ou imitativa.
Outro tipo, que se opunha à dança imitativa era a dança abstrata que procurava atingir o objetivo sem imitar os  atos, os gestos, ou as formas. Essa dança visava o êxtase por meio do encantamento místico, e era praticada em círculo, para que as forças magnéticas das pessoas que formavam o círculo penetrassem no dançarino, ou vice-versa.
Desde o início da vida humana, são três as formas fundamentais de dança: - em “solo”, em “pares” e em “grupos”.
A dança “solo” ou “individual”, tornou-se com o tempo, privilégio do chefe da tribo, que com sua mágica assegurava a marcha feliz da vida da comunidade.
Muitas vezes a dança solo era acompanhada pela dança em grupo, como uma reação orgânica emocional, que procurava exprimir-se numa manifestação dançante coletiva.
A forma mais característica da dança em grupo é o círculo, que, à medida da elevação do nível cultural, estabelecia entre seus componentes os movimentos e andamentos idênticos a todos.
A dança em pares era a forma mais importante da dança. Sua motivação principal era a união dos dançarinos para simbolizar a fertilidade, o crescimento da própria tribo.
As danças masculinas eram muito mais numerosas que as femininas. As danças de caça, guerreiras, solares, imitativas, animalizadas, de máscaras, dos espíritos, etc., eram privilégio dos homens. Todas as danças de fertilidade, de chuva, de plantação, de colheita, de nascimento, de iniciação à puberdade, lunares, fúnebres, etc., eram próprias das mulheres.
Os primeiros documentos sobre a origem pré-histórica dos passos de dança são provenientes de descobertas das pinturas e esculturas rupestres nas cavernas do homem da era paleolítica, mesolítica e neolítica, que deixaram gravadas a sua obra de arte nas pedras lascadas e polidas das cavernas.
A dança, como toda atividade humana, sofreu o destino das formas e das instituições da existência social dos homens. E assim, a dança de poder místico, que agia sobre os homens, espíritos e deuses, transformou-se numa dança de propriedade humana, contagiando os homens pela sua ação puramente estética e artística. A dança-religião aos poucos foi se acabando, cedendo lugar à dança-arte.
As culturas tribais evoluídas, que estabeleceram a ligação imediata com as grandes civilizações apresentavam, também dois tipos coreográficos: dança camponesa (popular, campesina ou de folclore), e a dança aristocrática (senhorial) para a distração dos  reis, príncipes e personagens da linha senhorial.
Essa reviravolta no domínio da dança deu origem à dança-arte das grandes civilizações; ao mesmo tempo em que a dança da cultura camponesa deixou sua herança de coreografias para o folclore dos povos de hoje (danças populares).

Texto baseado em: FAHLBUSCH. Hannelore. Dança: moderna e contemporânea. Sprint. Rio de Janeiro 1990.