REFLEXÕES SOBRE A
HISTÓRIA DA MÚSICA:
DA PRÉ-HISTÓRIA À
ATUALIDADE
Até poucas décadas atrás o
termo ‘história da música’ significava meramente a história da música erudita
européia. Foi apenas gradualmente que o estudo da música foi estendido para
incluir a fundação indispensável da música não européia e finalmente da música
pré-histórica. Há, portanto, tantas histórias da música quanto há culturas no mundo e
todas as suas vertentes têm desdobramentos e subdivisões. Podemos assim falar
da história da música do ocidente, mas também podemos desdobrá-la na história
da música erudita do ocidente, história da música popular do ocidente, história
da música do Brasil, História do samba, história do fado e assim
sucessivamente.
A Música através dos
tempos:
Povos Antigos: Nenhuma hipótese diz com exatidão
o momento em que os primitivos começaram a fazer arte com os sons. Suspeita-se
que já as pessoas das cavernas brincavam com os sons e davam á sua música um
sentido religioso. Consideravam um presente dos deuses, davam a ela um caráter
ritualístico e com ela reverenciavam o sagrado. Ritmavam suas danças com
pancadas na madeira. Imitavam os barulhos e os sons da natureza, o sopro do
vento, o ruído das águas, o canto dos pássaros. Por fim misturavam palmas e
roncos, pulos e uivos, batidas e berros. Certamente assim nasceu a música, a
partir da organização de muitos sons. Chama a atenção, no entanto, o fato de a
origem da música esteve ligada com a experiência humana com Deus, com o
Sagrado.
Idade Média: A música na antiguidade e nos
primórdios da Era Medieval tem apenas uma linha melódica cantada e tocada por
todos os executantes e é frequentemente chamada monofonia. No início da Idade
Média, todos cantavam tanto a música sacra como a profana ou secular (não
religiosa) na forma monofônica.
Depois desejaram cantar e tocar uma música mais
interessante e mais complexa do que a monofônica. Reuniram duas ou mais
melodias, criando um tipo de música chamada polifonia, que significa muitos
sons. A polifonia apareceu na Europa mais ou menos no século IX. O contraponto
(escrita polifônica) desenvolveu-se nos 800 anos seguintes.
Renascimento: A Renascença, na música, data do
século XIV no sul da Europa e de um pouco mais tarde no norte europeu. Os
compositores desejavam escrever música secular sem se preocupar com as práticas
da Igreja. Sentiam-se atraídos pelas possibilidades da escrita polifônica, na
qual cada voz podia ter sua própria linha melódica. A escrita polifônica
fornecia oportunidades técnicas para efeitos de grande brilho, que eram
impossíveis até então. Uma forma secular de composição, o Madrigal, surgiu no
século XIV, na Itália. Os compositores escreviam Madrigais em sua própria
língua, em vez de usar o latim. Durante a Renascença, a música inglesa atingiu
o apogeu. Surgiram grandes compositores madrigalistas ingleses que musicavam a
poesia da época.
Música Barroca: A música barroca substituiu o
estilo renascentista após o século XVII e dominou a música européia até cerca
de 1750. Era elaborada e emocional, ideal para integrar-se a enredos
dramáticos. A ópera era a mais importante novidade em forma musical, seguida de
perto pelo oratório. A música italiana barroca atingiu o auge com as obras de
Antônio Vivaldi.
O início do século XVIII foi marcado por dois grandes
compositores: Bach e Haendel. A família de Bach era composta de músicos que
atuaram do século XVI ao século XVIII. Dos 50 membros dessa família Johann
Sebastian Bach foi o seu maior representante, deixando um legado de inúmeras e
maravilhosas obras para a humanidade.
Nenhum estilo musical possui analogias tão nítidas com as
artes plásticas como o Barroco. A música descobre a profusão de sons
simultâneos como meio de alcançar o Belo. A linguagem tonal se firma como
sustentáculo da polifonia. Trata-se de uma das épocas musicais de maior
extensão, fecunda, revolucionária e importante da música ocidental, e
provavelmente, também a mais influente.
Durante o período barroco, a música instrumental passou a
ter importância igual à da música vocal. A orquestra passou a tomar forma no
século XVII. O aperfeiçoamento dos instrumentos de corda, principalmente os
violinos, fez com que a seção de cordas se tornasse uma unidade independente.
Os violinos passaram a ser o centro da orquestra, aos quais os compositores
acrescentavam outros instrumentos: flautas, fagotes, trompas, trompetes e
tímpanos. Um traço constante nas orquestras barrocas, porém, era a presença do
cravo ou órgão como contínuo, fazendo o baixo e preenchendo a harmonia. Novas
formas de composições foram criadas como a cantata, fuga, a sonata para
teclado, a suíte e o concerto.
Impressionismo: Na passagem do século XIX para o
século XX, surgiram na pintura artistas que fundaram a corrente impressionista:
Monet, Degas, entre outros. Esses artistas queriam passar impressões pictóricas
tais como achavam que eram sentidas. Na música não tardaram a surgir
compositores que tentassem realizar obras de caráter análogo (parecido). Sem
dúvida o mais importante deles foi Claude Debussy, francês.
Música no século XX: O século XX foi marcado por
avanços constantes no meio eletrônico de comunicação, os quais interferem
continuamente na concepção musical. Um outro fato que precisa ser levado em
conta é que a civilização já estava bastante adiantada nos países chamados
“Novo Mundo” e esses, ajudaram a mudar bastante o panorama da música ocidental.
Em linhas gerais a música no século XX é marcada pela ruptura generalizada em
relação à música européia, que imperou até esse momento. Certamente a Europa
não perdeu sua importância, mas viu-se obrigada a dividir terreno com a música
americana e, inclusive, assimilou dela muitos ingredientes importantes.
O século XX presenciou o desenvolvimento de quatro
aspectos importantes na História da Música:
● O Nacionalismo tornou-se marcante na música espanhola.
Os compositores soviéticos dominados pelo governo comunista criaram uma
perspectiva oficialmente anti-romântica, conhecida como realismo soviético. Os
mestres húngaros escreveram obras inspiradas em canções folclóricas, mas com um
estilo pessoal.
● Novos compositores americanos começaram a expressar
idéias de vanguarda de muita importância na música do século XX. A América
Latina produziu compositores muito importantes como o mexicano Carlos Chávez e o
brasileiro Heitor Villa Lobos.
● No início do século XX surgiu o Impressionismo, criado
na França por Claude Debussy e mais tarde com Maurice Ravel. O compositor russo
Igor Stravinsky foi um inovador por excelência, criando vários estilos
musicais. Suas criações levaram-no do nacionalismo e neoclassicismo até as
composições dodecafônicas. Os primeiros balés de Stravinsky, especialmente A
Sagração da Primavera, foram logo aceitos como clássicos contemporâneos.
● Os músicos acreditavam que já haviam esgotado todos os
recursos do sistema tônica-dominante e sentiam que a música precisava de uma
estrutura harmônica nova. Muitas inovações foram feitas e despertaram uma
reação violenta de protesto, tanto do público como de compositores
conservadores e críticos de música. Fizeram experiências de atonalidade e de
politonalidade (duas ou mais tonalidades ao mesmo tempo).
Na década de 60 o nacionalismo deixou de
representar uma força na música erudita. O mundo musical apresentava uma
situação semelhante ao século XVII, quando estilos internacionais dominavam o
cenário musical e compositores das mais diversas procedências e escolas podiam
compartilhar os mesmos pontos de vista artísticos. Nos países comunistas, o
realismo socialista ainda era o estilo oficial.
Vários compositores ocasionalmente omitiram o intérprete
em favor da música eletrônica, que aumentou muito as possibilidades técnicas
abertas ao compositor e à expressão musical.
Stockhausen e John Cage tornaram-se figuras importantes na
criação e desenvolvimento da música aleatória ou improvisada. Ao contrário da
música eletrônica, a música aleatória depende principalmente do intérprete. O
compositor propõe alguns elementos rítmicos, harmônicos e melódicos e o
intérprete a partir daí, cria sua própria interpretação. Por este motivo não
existem duas composições iguais de música aleatória.
Assim como existem várias
definições para música, existem muitas divisões a agrupamentos da música em
gêneros, estilos e formas. Dividir a música em gêneros é uma tentativa de classificar
cada composição de acordo com critérios objetivos que não são sempre fáceis de
definir.
Uma das divisões mais
freqüentes separa a música em grandes grupos:
●
Música erudita - a música tradicionalmente dita
como "culta" e no geral, mais elaborada. Seus adeptos consideram que
é feita para durar muito tempo e resistir a modas e tendências. Em geral exige
uma atitude contemplativa e uma audição concentrada. Alguns consideram que seja
uma forma de música superior a todas as outras e que seja a real arte musical.
No entanto esse pensamento é tipicamente ocidental, obsoleto e não leva em
conta a imensa variedade de formas e funções da música nas mais diversas
sociedades. Os gêneros eruditos são divididos sobretudo de acordo com o
períodos em que foram compostas ou pelas características predominantes.
●
Música popular - associada a movimentos culturais
populares. É a música do dia a dia, tocada na festas, usada para dança e
socialização. Segue tendências e modismos e
muitas vezes é associada a valores puramente comerciais. É dividida em centenas
de gêneros distintos, de acordo com a instrumentação, características musicais
predominantes e o comportamento do grupo que a pratica ou ouve.
●
Música folclórica ou tradicional -
associada a fortes elementos culturais de cada sociedade. Normalmente são
associadas a festas folclóricas ou rituais específicos. Pode ser funcional
(como canções de plantio e colheita ou a música das rendeiras e lavadeiras).
Normalmente é transmitida por imitação e costuma durar décadas ou séculos.
Incluem-se neste gênero as cantigas de
roda e de ninar.
● Música Religiosa - utilizada em liturgias,
tais como missas e funerais. Também pode
ser usada para adoração e oração ou em
diversas festividades religiosas como o natal e a páscoa, entre
outras. Cada religião possui formas específicas de música religiosa, tais como
a música sacra católica, o gospel das igrejas
evangélicas, a música judaica, os
tambores do candomblé ou outros
cultos africanos, o canto do muezim, no Islamismo entre
outras.
Cada uma
dessas divisões possui centenas de subdivisões. Gêneros, subgêneros e estilos
são usados numa tentativa de classificar cada música. Em geral é possível
estabelecer com um certo grau de acerto o gênero de cada peça musical, mas como
a música não é um fenômeno estanque, cada músico é constantemente influenciado
por outros gêneros. Isso faz com que subgêneros e fusões sejam criados a cada
dia. Por isso devemos considerar a classificação musical como um método útil
para o estudo e comercialização, mas sempre insuficiente para conter cada forma
específica de produção. A divisão em gêneros também é contestada assim como as
definições de música porque cada composição ou execução pode se enquadrar em
mais de um gênero ou estilo e muitos consideram que esta é uma forma artificial
de classificação que não respeita a diversidade da música. Ainda assim, a
classificação em gêneros procura agrupar a música de acordo com características
em comum. Quando estas características se misturam, subgêneros ou estilos de
fusão são utilizados em um processo interminável. Os estilos musicais ao entrar
em contato entre si produzem novos estilos e as culturas se misturam para
produzir gêneros transnacionais.
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