"A arte é a contemplação: é o prazer do espírito que penetra a natureza e descobre que ela também tem uma alma. É a missão mais sublime do homem, pois é o exercício do pensamento que busca compreender o universo, e fazer com que os outros o compreendam." (Auguste Rodin)

domingo, 5 de junho de 2016

2ª Série - A ARTE DAS CAVERNAS - Texto 1 - 2ª Unidade - 2016

As manifestações artísticas mais antigas estão relacionadas com os primeiros restos do Homo sapiens e remontam à época do Paleolítico.

O que é a arte rupestre

Em linhas gerais, a denominação Arte Rupestre (do latim rupes, rochedo) define qualquer conjunto de elementos gráficos pintados ou gravados sobre suportes rochosos fixos – em geral abrigos, grutas, lajedos, paredões e afloramentos – deixados por populações pretéritas (do passado), constituídas de grupos de caçadores – coletores, horticultores, agricultores ou pastores.

Período Paleolítico Inferior

Aproximadamente 5.000.000 a 25.000 a. C.;
Dois fatos foram muito importantes nesse período: o homem aprendeu a fazer fogo, com o qual se aquecia e afugentava os animais, e a utilizar pedras lascadas, com as quais confeccionavam instrumentos para caçar, guerrear e realizar entalhes nas paredes e usavam tintas tiradas de plantas e o vermelho do sangue de animais.
A primeira característica é o pragmatismo, ou seja, a arte produzida possuía uma utilidade material, cotidiana ou mágico-religiosa. Os primeiros objetos feitos pelo homem foram de rochas quebradas. Presos ou não há um galho de árvore, os pedaços de pedra lascada, madeira e ossos: facas e machados, ferramentas, armas eram escolhidos para caçar, bater, matar.

Características gerais:
  • O homem vai descobrindo meios de dominar a natureza.
  • Vive em pequenos grupos nômades e se abriga em cavernas.
  • Desenvolve a linguagem para se comunicar.
  • Fabrica utensílios de pedra, osso, madeira. Aparecem machados, martelos, lâminas cortantes e arpões feitos de pedra lascada.
  • Fabricava anzóis e agulhas de osso, arco e flecha de madeira.
  • Caça, pesca e colhe frutas e raízes como meio de vida.

Período Paleolítico Superior

As manifestações artísticas mais antigas de que temos conhecimento hoje datam de aproximadamente 40 mil anos atrás, período da pré-história chamado de período Paleolítico Superior. São chamadas de arte rupestre, palavra que faz referência às rochas, paredes das cavernas onde se encontra grande parte desses registros. Eram feitas com o uso de materiais naturais presentes no ambiente, como o carvão, pedras, pós-minerais e sangue de animais.
A principal característica dos desenhos da Idade da Pedra Lascada, nome pelo qual também é conhecido Paleolítico Superior, é o naturalismo.  O artista pintava o animal do modo como o via, reproduzindo a natureza tal quais seus olhos a captavam. Observando essas pinturas, nota-se a presença de animais de grande porte: alguns talvez temidos, mas que eram caçados pelo ser humano, como bisões; outros que provavelmente não representavam ameaça alguma, como renas e cavalos.
As amostras mais remotas de pintura correspondem ao Paleolítico superior. Graças ao uso de pigmentos minerais, aparece a policromia; as cores mais utilizadas são o preto, o vermelho, o ocre e o amarelo. O ponto culminante dessa pintura é atingido em torno de 15.000 anos A.C. em Altamira (Espanha) e em Lascaux (França). São representados especialmente grandes animais, como bisões.
Acredita-se que, na pré-história, ao tentar entender a vida, a morte, o mundo, e os fenômenos da natureza, o ser humano tenha criado mitos e rituais para simbolizar sua experiência e sua conexão com tudo o que estava a sua volta, visível ou invisível. As manifestações artísticas teriam se originado desses rituais. Deuses e divindades eram associados aos animais. À flora e aos fenômenos naturais, como a chuva, o sol, o trovão. A existência humana não era entendida como uma divisão entre realidade concreta e o mundo mágico, onírico e sobrenatural. Para nossos ancestrais, é possível que tudo estivesse conectado. A caverna, nas profundezas da terra, talvez fosse um local adequado para essas rituais, iluminados pela luz das fogueiras e tochas. Provavelmente procurando a comunicação entre si e com suas divindades, criaram formas às quais deram significados, símbolos que, acredita-se, eram entendidos pelos diferentes grupos humanos. São inacreditáveis as perguntas sobre os motivos que levaram o homem a fazer essas pinturas. Não sabemos exatamente o que simbolizavam; o que existem são hipóteses. Atualmente, a explicação mais aceita é que essa arte era realizada por caçadores, e fazia parte de um processo de magia por meio do qual procurava-se interferir na captura de animais. Ou seja, o pintor-caçador do Paleolítico supunha ter poder sobre o animal verdadeiro desde que o representasse ferido mortalmente num desenho. Assim, para ele, os desenhos não eram representações de seres, mas os próprios seres. Mas consideramos essas formas as mais antigas manifestações artísticas da humanidade.
Características da pintura:
ð  Raridade da figura humana
ð  Ausência de claro escuro
ð  Animais em movimento
ð  Desenhos marcados com incisões fortes
ð  Contornos bem definidos em preto
ð  Ausência de perspectiva

Escultura Paleolítica

Da escultura paleolítica são famosas as estatuetas femininas de pequenas dimensões designadas genericamente por vênus. Identificadas como possíveis ídolos para o culto da fertilidade e sexualidade estas figuras apresentam características semelhantes entre si; são representadas nuas, de pé e revelam os elementos mais representativos do corpo feminino em linhas exacerbadas. O exagero destes elementos traduz-se num peito, ventre e ancas voluminosos em oposição a braços e pernas delicados e cabeça pequena. A face, tratada com linhas simples reduzidas ao essencial, onde não é possível reconhecer traços individuais, transforma-se, com o tempo, num elemento cada vez mais estilizado e simbólico, assim como todo o corpo da figura.

Período Neolítico

As mudanças climáticas favoreceram o agrupamento dos homens primitivos ao longo dos rios e, dessa experiência, fizeram a maior descoberta de todos os tempos: viver e construir juntos é melhor e mais seguro do que isolados. Dessa maneira, o homem se organizou em tribos e aprendeu a plantar, a colher e também a criar animais, não precisando mais mudar-se de um lugar para outro quando o alimento se tornasse escasso. Esse momento foi denominado Neolítico.
No Neolítico, último período da Pré-História, iniciou-se o desenvolvimento da agricultura e a domesticação de animais. Os grupos humanos, que tinham vida nômade, isto é, sem habitação fixa, não precisaram mais mudar-se constantemente em busca de alimento e puderam se fixar.
Essa mudança para a vida mais estável foi decisiva para as sociedades atuais e também teve reflexos na expressão artística: o artista do Neolítico passou a retratar a figura humana em suas atividades cotidianas. Como precisavam representar muitas pessoas em movimento, essas figuras não poderiam ser feitas em tamanho natural; por esse motivo, elas foram reduzidas em sua dimensão, simplificadas e trabalhadas com pouca cor, dando origem a formas estilizadas ou geometrizadas. Assim, podemos dizer que o estilo de arte do Neolítico era geometrizante ou simplificador.
O ser humano do Neolítico desenvolveu técnicas como a tecelagem, a cerâmica e a construção de moradias. Além disso, como já produzia fogo, começou a trabalhar na fundição de metais. Assim, suas atividades começaram a se modificar e as pinturas rupestres registraram essas transformações.

Características gerais:
·         Instrumentos de pedra polida, enxada e tear;
·         Pinturas de cadáveres e cenas de caça.
·         Início do cultivo dos campos;
·         Artesanato: cerâmica e tecidos;
·         Construção de pedra; e
·         Primeiros arquitetos do mundo.


Esculturas
A escultura foi responsável pela elaboração tanto de objetos religiosos quanto de utensílios domésticos, onde encontramos a temática predominante em toda a arte do período, animais e figuras humanas, principalmente figuras femininas, conhecidas como Vênus, caracterizadas pelos grandes seios e ancas largas, são associadas ao culto da fertilidade.
Entre as mais famosas estão a Vênus de Lespugne, encontrada na França, e a Vênus de Willendorf encontrada na Áustria foram criadas principalmente em pedras calcárias, utilizando-se ferramentas de pedra pontiaguda.
Os artistas faziam também esculturas em pedra e metal, que mostram seu empenho na criação de objetos e na representação da figura humana. Há esculturas em bronze nas quais já é possível observar não só a postura elegante da figura humana como também detalhes do rosto e das vestes.
Uma das primeiras representações humanas em escultura é a figura de mulher chamada a Vênus de Willendorf. Altura:11 cm.
Os escultores pré-históricos produziram suas peças em metal por meio de dois métodos: o de forma de barro e o da cera perdida. No método da forma de barro o escultor fazia a forma e despejava nela o metal derretido em fornos. Então, esperava o metal esfriar, quebrava a forma e obtinha a escultura. Na técnica da cera perdida, o escultor fazia um modelo em cera e o revestia com barro, deixando nele um orifício. Depois, aquecia o barro. Com o calor do barro, a cera derretia e escorria pelo orifício. Assim, ele obtinha um modelo oco e o preenchia com metal fundido. Quando o metal esfriava, ele quebrava o molde de barro e obtinha uma escultura igual à que havia modelado na cera.  A partir do uso dos metais, surgiram também esculturas masculinas, simbolizando guerreiros.

 Arquitetura

Os primeiros homo sapiens eram nômades e refugiavam-se nos lugares que a natureza lhes oferecia, podendo ser em aberturas nas rochas, cavernas, grutas ao pé de montanhas ou até no alto delas.
Não se pode falar de uma arquitetura pré-histórica no sentido artístico, apesar de seu caráter funcional. Mais tarde eles começariam a construir abrigos com as peles dos animais que caçavam ou com as fibras vegetais das árvores das imediações, que aprenderam a tecer, ou então combinando ambos os materiais.
Durante o período neolítico essa situação sofreu mudanças, desenvolveram-se as primeiras formas de arquitetura e consequentemente o grupo humano passou a se fixar por mais tempo em uma mesma região, mas ainda utilizava-se de abrigos naturais ou fabricados com fibras vegetais ao mesmo tempo em que passaram a construir monumentos de pedras colossais, que serviam de câmaras mortuárias ou templos. Raras as construções serviam de habitação.
Esses monumentos de pedra foram denominados “megalíticos” e podem ser classificados de: nuragues (feitos de pedras justapostas sem argamassa) e os dolmens (duas grandes pedras fincadas no chão).
Câmara: Geralmente de forma trapezoidal ou circular. Era constituída grandes pedras em posição vertical em número variável entre seis e nove, cobertos por uma laje horizontal, designada de chapéu, mesa ou tampa. Existem câmaras que chegam a ter a altura de seis metros.

Corredor (não é obrigatória a sua existência)
O corredor ou galeria de acesso à câmara pode ter variadíssimos tamanhos e é formado por diversos esteios verticais, normalmente coberto por lajes designadas por tampas. Alguns corredores apresentam um pequeno átrio (pátio) no lado oposto à câmara. Conhecem-se em Portugal antas com corredor de dezesseis metros de comprimento.

Menires, que são grandes pedras cravadas no chão de forma vertical; e os Cromiech,  que são menires e dolmens organizados em círculo, sendo o mais famoso o de Stonehenge, na Inglaterra.
Também encontramos importantes monumentos megalíticos na Ilha de malta e Carnac na França, todos eles com funções ritualísticas.


Em todas as regiões do Brasil existem sítios existem sítios arqueológicos em que foram encontrados registros visuais e vestígios materiais de grupos humanos que aqui viveram milhares de anos antes da colonização. Esse período é chamado pré-cabralino, ou seja, antes da chegada de Pedro Alvares Cabral, em 1500. Os mais antigos ficam no Parque Nacional da Serra da Capivara, no Piauí, e chagam a 12 mil anos de idade. As imagens representam principalmente seres humanos e animais, e, em alguns lugares, grafismos não reconhecíveis.
Características específicas das imagens indicam que diferentes grupos humanos desenvolveram estéticas particulares, que são chamadas de tradições, e, dentro delas, há divisões em subtradições.
Ainda há muito o que se estudar sobre os diversos registros rupestres no Brasil, mas duas tradições já foram mais bem definidas, encontradas principalmente na Região Nordeste do país: uma delas é a tradição Nordeste, e a outra, a tradição Agreste.
Tradição Nordeste: possui desenho rico em detalhes, e há o predomínio de figuras reconhecíveis, principalmente humanas e animais. Muitas vezes elas representam ações ligadas à vida cotidiana ou aos rituais. Há quatro temas nessa tradição: dança, práticas sexuais, caça e rituais em torno de uma árvore. Estudos indicam que a tradição Nordeste surgiu por volta de 12 mil anos atrás, e desapareceu há cerca de 6 mil anos. Acredita-se que surgiu no sudeste do Piauí e espalhou-se para outras regiões.
Tradição Agreste: possivelmente é originária da região de Pernambuco e Paraíba, e apresenta características bem diferentes daquelas da tradição Nordeste. A técnica dessa tradição é menos elaborada, as figuras são mais simples, com poucos detalhes. Há poucas representações de ações e cenas, as figuras são geralmente estáticas e isoladas. Acredita-se que essa tradição tenha surgido há cerca de 9 mil anos e durado até 3,5 mil anos atrás.


Referências
Texto produzido em forma de livreto pelo Museu de Arqueologia e Etnologia da Universidade Federal da Bahia
Proença, Graça. Descobrindo a História da Arte. 1ª Ed. Ática. São Paulo. 2005.

BOZZANO, Hugo; FRENDA, Perla; GUSMÃO, Tatiane Cristina. Arte em Integração. Vol. Único São Paulo:IBEP, 2013. 

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