"A arte é a contemplação: é o prazer do espírito que penetra a natureza e descobre que ela também tem uma alma. É a missão mais sublime do homem, pois é o exercício do pensamento que busca compreender o universo, e fazer com que os outros o compreendam." (Auguste Rodin)

quinta-feira, 22 de setembro de 2016

1ª Série - TIPOS DE DANÇA - 3ª Unidade - Texto 3 - 2016

Como todas as artes, a dança é fruto da necessidade de expressão do homem.
Em nossos dias, podemos dividir a dança em quatro formas distintas: as religiosas (ou étnicas), as populares (ou folclóricas), as danças de salão e as teatrais.

Danças Religiosas: As danças populares ou folclóricas nasceram, em princípio, de danças religiosas que pouco a pouco foram sendo liberadas pelos sacerdotes de um culto para que as celebrações (de casamentos, batizados, de uma boa colheita) passassem a ser realizadas em praças públicas e não mais dentro dos templos. Essa liberação, cuja data dificilmente se poderá saber (pois que sobre ela não há registro), significa um progresso na história da dança. Ao passarem do domínio dos sacerdotes para o domínio do povo, as manifestações religiosas transformaram-se em manifestações populares. Assim, com o passar dos anos, a ligação com os deuses foi ficando cada vez mais longínqua, e danças que nasceram religiosas foram gradualmente se transformando em folclóricas.
Podemos citar algumas características da dança como manifestação religiosa: 1) acontecia em locais especiais, como os templos; 2) era privilégio dos sacerdotes; 3) realizavam-se dentro de cerimônias específicas, devendo haver razões para a forma e as datas em que cada dança tinha lugar.
Devemos lembrar que os deuses eram invocados e seu auxílio solicitado por razões das mais diversas, fosse pedindo ou agradecendo. Por isso os deuses eram lembrados por ocasião de nascimentos, casamentos, mortes, guerras e colheitas, ou seja, em todas as ocasiões em que os homens sentiam necessidade de apoio da divindade de sua adoração.
As danças pouco a pouco adquiriram uma coreografia própria, ou seja, passos e gestos específicos a cada uma, com significado próprio e que deveriam ser respeitados no contexto de cada uma das cerimônias.
Sabemos, por exemplo, que os soldados romanos executavam, antes de cada batalha, danças guerreiras, nas quais pediam o apoio de Marte, deus da guerra, para a luta que iriam iniciar. Se a princípio a dança era executada por sacerdotes e um número pequeno de iniciados, aos poucos ela foi abrangendo outros grupos, até ser dançada por boa parte dos soldados. Com o passar do tempo o seu significado religioso foi sendo esquecido dando lugar a manifestações de cunho popular ou folclórico.
As danças guerreiras de diversas regiões da Ásia e da Europa Oriental se inserem nesse contexto. É importante notar que, durante vários séculos, a dança era privilégio do sexo masculino, e só muito mais tarde as mulheres passaram a participar ativamente das danças.
Sem sairmos do nosso próprio país, aqui encontramos, entre os nossos indígenas e no candomblé, suficientes provas da ligação entre a dança e o ato religioso. Encontramos também outras provas dessa tese em cultos africanos e asiáticos que permanecem vivos no nosso tempo. Esses exemplos nos mostram que, nos ritos religiosos antes do domínio da Igreja Católica, a danças integravam quase que totalmente a noção de religião.
No caso das religiões afrobrasileiras e, especialmente do candomblé, ocorreu um sincretismo que permitiu que essas religiões sobrevivessem à guerra que lhes foi movida pela Igreja Católica. Os negros identificaram seus orixás com os santos católicos e passaram a executar seus ritos em lugares distantes e horas tardias, procurando evitar a fiscalização da polícia. E tanto conseguiram que essas religiões e seus derivativos, especialmente a umbanda, a quimbanda e o omolocô, são seguidos hoje em dia por dezenas de milhões de brasileiros, muitos dos quais, ao acenderem uma vela para Santa Bárbara de São Jorge, o fazem não só aos próprios santos mas também a Yansã e a Ogun.
Segundo as estatísticas, temos hoje uma população indígena de cerca de 10% da que existia em 1500. Dessa, uma parcela perdeu boa parte de suas raízes e de sua civilização, mas pelo que restou podemos ter ainda uma noção bastante nítida da ligação entre dança e religião através das cerimônias de iniciação dos meninos na vida adulta, dos enterros e casamentos, onde duas presenças são constantes: a dança e o pagé.

Danças Populares: A nossa dança popular (também conhecida como dança folclórica) é, ao mesmo tempo, imensamente rica e pouco executada. Os livros especializados na matéria indicam-nos centenas de danças, muitas das quais sobrevivem apenas em pequenas cidades e morrem um pouco a cada ano que passa com a falta de renovação de seus intérpretes e o pouco interesse das autoridades competentes. Assim, um rico acervo cultural de nosso país vai se diluindo no tempo e deixará de existir caso não haja uma ação firme por parte das autoridades culturais.
De acordo com os especialistas, o folclore brasileiro se divide em dois grupos principais: o urbano, ou aquele que é parte integrante da vida da população das cidades e que domina principalmente o Norte e Nordeste do Brasil; e o rural, que ocupa a maior parte do Sul e Centro-Oeste, mas que se desenvolve principalmente nas aldeias e vilarejos, fora dos grandes centros urbanos.
As pequenas cidades sofrem bem menos o impacto da civilização e continuam a procurar o seu lazer dentro das manifestações folclóricas, tal como faziam os seus antigos habitantes. Na verdade, essas danças permanecem mais puras quando são interpretadas nos locais mais distantes dos centros civilizados.
Essa divisão geral sofre uma subdivisão, de acordo com os meios de subsistência de cada uma dessas áreas. Assim, as danças locais sofrem, em seu contexto, o impacto do ambiente em que se desenvolvem. Essa conexão aparece não só na coreografia em si, mas principalmente nos temas e nos nomes dos personagens.  Essas áreas são: 1) Marítima (pesca); 2) Agricultura; 3) Mineração; 4) Pastoreio; e 5) Região Amazônica.
As festas das áreas marítimas estão geralmente ligadas aos santos protetores dos marinheiros, que lhes proporcionam boa pesca ou os protegem dos perigos do mar. Os cantos e danças dessas festas normalmente contam a história de algum milagre ligado ao santo que é celebrado. Aqui se percebe a influência clara de danças portuguesas e espanholas, não apenas nas figuras formadas pelos dançarinos, mas também nos ritmos, nos instrumentos e nos objetos usados durante as encenações. Essas danças só são executadas em dias determinados e, na maioria das vezes, nas praças e jardins, diante das igrejas. Pena que algumas dessas danças estão desaparecendo rapidamente. Diversas delas sobrevivem em pequenas comunidades e seus intérpretes pertencem à geração mais velha; talvez a tradição desapareça com eles. Parece haver um vazio na renovação dos intérpretes – a juventude mostra-se atualmente mais desinteressada em continuar as tradições.
Felizmente isso não acontece em todos os lugares. Exatamente o contrário parece estar acontecendo no Nordeste, onde a renovação dos intérpretes parece acontecer sem problemas. Na verdade, com o auxílio de especialistas, algumas dessas danças estão ganhando uma nova força e voltando com renovado impacto ao mundo da nossa cultura popular (nosso folclore). Em certos estados, como Paraná, Maranhão, Rio Grande do Sul e Minas Gerais, diversas sociedades foram formadas com o objetivo de preservar e divulgar a cultura popular (folclore). Mas não há dúvida de que algumas danças apresentadas em vilarejos distantes correm o risco de desaparecer.Na lista de nossas danças populares, existem diversos “bailados” de natureza secular e de origem africana. É possível que, em alguma época, tenham sido danças religiosas antes de serem transportadas para o Brasil. Dentro dessa categoria estão a Congada, o Maracatu (do baque solto e do baque virado), a Dança dos Pássaros, o Reisado, o Moçambique, os Caboclinhos, o Quilombo, dentre muitas outras. O escritor e folclorista Mario de Andrade deu-lhes o nome de “Danças Dramáticas”, pois sempre contam uma história com significado dramático. Além destas, ainda podemos citar inúmeras danças especificamente nordestinas como: ciranda, frevo, maculelê, tambor de crioula, quadrilha, forró, samba de roda, cacuriá, côco, puxada de rede e afoxés.
Se diversas dessas danças, como já dissemos, tiveram sua chance de sobrevivência aumentada com a fundação de sociedades específicas, muitas delas, como o Maracatu, transformaram-se em atrações turísticas. Isso significa que sua natureza foi alterada para fazer face às necessidades de coreografia geralmente imposta pelo turismo. Seria necessário que essas sociedades atentassem para o problema e impedissem que sua natureza folclórica fosse se transformando a ponto de chegar ao que chegou o Carnaval, ou seja, manifestação folclórica cujas origens se perderam completamente no tempo e no espaço, para se transformar apenas em atração turística, ou seja, um grande jogo de interesses e grande empreendimento industrial.

Dança de Salão: Imaginem que a evolução da dança seguiu o seguinte trajeto: o templo, a aldeia, a igreja, a praça, o salão e o palco. O salão inclui todas as danças que passaram a fazer parte da vida da nobreza europeia da Idade Média em diante. Podemos situar o aparecimento dessas danças na época em que a religião católica diminuía sua força em proibir tudo aquilo que cheirasse a pecado ou a ligação com o paganismo. Os especialistas em danças medievais são praticamente unânimes em dizer que as danças de salão descendem diretamente das danças populares. Ao serem transferidas do chão de terra das aldeias para o chão de pedra dos castelos, essas danças foram modificadas. Abandonou-se o que havia nelas de “menos nobre” transformando-as de acordo com o gosto das classes que se julgavam superiores.
Tendo se transformado em diversão das classes mais ricas, a dança foi se sofisticando e adquirindo movimentos cada vez mais complexos. A descrição das danças daquele tempo mostra-nos que elas obedecem a uma verdadeira coreografia, a qual, sem dúvida, foi se formando e enriquecendo através dos séculos. Vale-se ressaltar que nos séculos XVI e XVII, quando as cortes europeias seguiam rígidas etiquetas, esses verdadeiros códigos de comportamento diziam até como se deveria dançar, quem poderia dançar com quem, etc. Foi nessa época que uma manifestação que nascera livre e espontânea se transformou numa “camisa de força”.
As primeiras danças sociais, como eram chamadas as danças em casais, surgiram no séc. XIV. Eram a base dance (1350-1550) e o pavane (1450-1650), dançadas exclusivamente por nobres e aristocratas. Nos sécs. XIV a XVII a Inglaterra foi berço da contradanse, também só dançada pela Corte. A popularização das danças sociais deu-se em 1820 através do Minuet e da Quadrille. Já no início do séc. XIX ocorreram rápidas transformações no estilo de dançar. O minueto e a quadrille desapareceram e a Valsa começou a ser introduzida nos sofisticados salões de baile. Logo, a polka e, no início do nosso século, o two-step, one-step, fox-trot e tango, também invadem os salões. A dança social passa então a ser chamada de Dança de Salão (Ballroom Dancing).
No Brasil a dança de salão foi introduzida em 1914, quando a suíça Louise Poças Leitão, fugindo da I Guerra Mundial, aportou em São Paulo. Ensinando valsa, mazurca e outros ritmos tradicionais para a sociedade paulista, Madame Poças Leitão não imaginava que iria criar uma tradição tão forte, seguida por discípulos que continuariam a divulgar a dança de salão. No Rio de Janeiro a dança de salão cresceu nas mãos de Maria Antonieta, que, com várias correntes de professores, fazem o nosso bolero, samba no pé e samba de gafieira famosos no mundo todo.

Danças Teatrais: As danças teatrais, tal como a conhecemos, iniciou sua trajetória quando Luís XIV fundou, em 1661, a Academia Nacional de Dança. Essa Academia tem funcionado ininterruptamente até nossos dias, uma vez que se transformou naquilo que hoje são a Escola e o Ballet da Ópera de Paris. Assim, através de uma linha ininterrupta de bailarinos e professores, temos naquele país o desenvolvimento dessa arte desde o século XVII.        
Mas, antes disso, muitas coisas aconteceram: a semente daquilo que se converteria em Ballet foi levado à França por Catarina de Médicis, que queria manter os filhos entretidos enquanto ela se preocupava em governar. A rainha então importou da Itália artistas e cortesãos especializados na preparação de luxuosos espetáculos, e lhes encomendou inúmeras diversões que deveriam manter a corte distraída durante boa parte do tempo. O espetáculo era uma combinação de dança, canto e textos falados, e seu objetivo era claramente social e político: um passatempo elegante para o Rei e sua corte. Também proporcionava ocasiões para o esbanjamento de fortunas e, principalmente, possibilitava a indecente adulação que a corte fazia ao rei.
O primeiro Ballet a merecer este título foi o Ballet Comique de la Reine, de Balthasar de Beaujoieux, italiano, apresentado em 15 de outubro de 1581. Fora encomendado por Catarina de Médicis por ocasião do casamento de sua irmã. O Ballet Comique de la Reine é considerado a primeira obra de Ballet porque Beaujoieux, que era músico e violinista, compôs uma verdadeira coreografia, mostrando extraordinário engenho nas figuras geométricas que constituíam os diversos quadros e na direção do espetáculo, dando-lhe um cunho verdadeiramente profissional. Claro está que os nobres da corte não tinham nenhum treinamento e que os passos executados estavam dentro das possibilidades dos intérpretes. Mas é o conjunto de fatores que dá a essa obra o direito de ser apontado como a base da dança teatral, como a conhecemos hoje.
Cem anos depois, durante o reinado de Luís XIV, a dança ganhou ainda um maior incremento. O próprio rei adorava dançar e, segundo os cronistas da época, tinha talento para a coisa. No período entre 1651 e 1669, criou um extraordinário número de personagens desempenhando os mais variados papéis.  E Luís XIV gostava de se cercar da nata de sua corte e de artistas. Entre seus primeiros bailarinos estava Bassonpierre, que era Marechal de Campo do seu exército e passou a estimular preguiçosos cortesãos que chegaram a ser verdadeiros semi-profissionais pois dedicavam todo o seu tempo à Dança. Molière escrevia as histórias (libretos) e compositores famosos como Lully e Beauchamps, compunham as músicas para essas extravagâncias reais.
É interessante notar que, segundo um historiador importante, o Ballet, tal como o conhecemos hoje, nasceu quando a acrobacia dos ciganos e saltimbancos de feira se misturou com a graça artística dos cortesãos.
Luís XIV fundou, em 1661, a Academia de Musica e Dança. Oito anos depois, tendo engordado, o rei deixou de dançar e a corte imediatamente seguiu o seu exemplo. Mas as raízes da nova arte estavam devidamente plantadas, e o rei não abandonou o seu apoio à Academia que fundara e que se encarregava de preparar músicos e bailarinos para o prazer real. Da mesma forma com que o povo já freqüentava teatros para assistir as peças de Molière, logo foram sendo apresentados espetáculos que incluíam a danças como parte integrante de sua estrutura.

BOURCIER, Paul. História da dança no ocidente. São Paulo: Martins Fontes, 1987.
FARO, Antônio José. Pequena História da Dança. Rio de Janeiro: Zahar, 1986.
MENDES, Míriam Garcia. A Dança. São Paulo: Ática, 1987.
PORTINARI, Maribel. História da dança. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1989.
WIKIPÉDIA – Enciclopédia livre

GOOGLE imagens – www.google.com.br

(baseado no texto de Antonio José Faro)


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