"A arte é a contemplação: é o prazer do espírito que penetra a natureza e descobre que ela também tem uma alma. É a missão mais sublime do homem, pois é o exercício do pensamento que busca compreender o universo, e fazer com que os outros o compreendam." (Auguste Rodin)

domingo, 8 de abril de 2018

3ª Série: Texto: O PRAZER DO BELO - 1ª Unidade - 2018


“Mas o que é, então, o Belo? Não é uma ideia ou um modelo. É uma qualidade presente em certos objetos  - sempre singulares – que nos são dados à percepção”. (Mikel Dufrenne, filosofo francês; Texto extraído de Estética e Filosofia)

Dentre as características mais importantes da arte, destacamos a emoção e o prazer que ela desperta e que alguns filósofos identificam como o prazer do belo ou prazer estético. Trata-se do prazer que sentimos ao apreciar uma música, uma pintura, uma foto, uma dança... Um prazer diferente daquele que sentimos quando dormimos bem ou comemos uma comida especial. O prazer que a arte desperta vem da forma das coisas, do som, do colorido, do ritmo, da maneira como nós percebemos essas coisas.
Esta emoção difere daquela que temos cotidianamente diante dos fatos da vida, porque sabemos que ela é fruto da imaginação do autor e da nossa também, que é capaz de entendê-la. Assim, tanto o prazer que sentimos diante de uma paisagem agradável como a sensação de suspense que temos ao ver alguns filmes, resultam do domínio do autor sobre a arte com a qual se expressa, das qualidades estéticas de sua obra.
Imaginemos o seguinte: você vê uma cadeira em uma loja. Acha que ela é leve, fácil de carregar, bem feita e de preço acessível. Mas, além de tudo isso, você a acha bela. Quando a olha, consegue distinguir a sua forma interessante e peculiar. A sua cor clara, por exemplo, desperta em você uma sensação de leveza que combina com as linhas também leves da cadeira. Nota ainda que a forma das pernas é harmoniosa e permite uma movimentação livre por parte de quem se senta, e os braços parecem convidar o usuário a se apoiar. Você tem a sensação de que quem a criou entendia do corpo humano e de suas necessidades de conforto.
Todas essas impressões agradáveis, cheias de significados sugeridos pela forma, cor, textura e mesmo pelo conjunto como um todo, constituem o prazer do belo. Você finalmente compra a cadeira e sente prazer quando a olha, em sua casa, mesmo quando não está pensando sequer em se sentar nela. Gosta tanto dela que a deixa em um lugar bem visível, porque aprecia sua concepção, suas linhas, sua forma. Esse prazer é o prazer típico da arte. Chamam de prazer estético aquele que, resultando da sua composição e harmonia, é apreciado através da contemplação ou fruição.
Quer outro exemplo? Seu amigo toca violão e o faz de uma maneira que lhe parece única. Há um sentimento em sua interpretação, uma forma especial de dedilhar as cordas que lhe soa incomum. A música é conhecida e de domínio de muitos, já foi gravada e regravada inúmeras vezes, mas a maneira como ele toca é única; e você parece entender cada variação melódica. Você tem a impressão de que, de todas as formas possíveis, ele procurou descobrir a melhor: aquela que representa a intenção do compositor, as possibilidades do instrumento e a expressão de sua sensibilidade. Essa sensação que a música lhe traz é o prazer que caracteriza a fruição ou percepção artística.
Gaston Bacheland, filosofo diz, explicando essa emoção provocada pela poesia, que ela repercute no ouvinte fazendo com que a imagem sugerida se torne também dele, enraizando-se no seu interior. A sensação que temos então, segundo esse autor, é que poderíamos ou deveríamos tê-lo criado.
O diretor de teatro inglês, Peter Brook, diz que a beleza de uma peça está na qualidade e na perfeição que o público é capaz de identificar num simples gesto ou numa palavra. Afirma que, para ser arte, uma interpretação deve ser capaz de estimular a imaginação do público que a ela se entrega. Ele está assim procurando mostrar que a beleza que caracteriza a obra de arte deve vir de dentro do observador, sob a forma de uma entrega ou de uma fruição emocionada.
O que faz agente sentir essa emoção diante de uma música e não de outra, de uma imagem e não de outra, tem a ver com o se viveu na infância, com o que se aprendeu em casa ou na escola. E também com o que se é, com o nosso temperamento. Tudo isso nos faz sensíveis a determinadas linguagens e certas soluções plásticas, visuais ou musicais. Isso explica por que nem todos acham a mesmas coisas belas, nem são sensíveis aos mesmos efeitos.
A emoção artística depende, portanto, da sociedade em que se vive, da região, do tempo edas pessoas com quem convivemos.
O prazer do belo depende também do nosso estado de espírito. Se estamos alegres, ficamos mais sensíveis às obras de arte que nos transmitem alegria. Se, ao contrário, estamos tristes, nos emocionamos mais com as músicas ou imagens que aparecem estar sintonizadas conosco, reproduzindo nosso humor ou nossas emoções.
Algumas pessoas erroneamente pensam que só as imagens graciosas e as músicas alegres são capazes de encantar as pessoas, mas isso não é verdade. Muitas vezes uma imagem ou uma música emocionam justamente porque são fortes e violentas. Algumas cenas de medo de um filme de terror não são as que mais emocionam? Não são elas que nos fazem entrar no clima do filme e vive-lo intensamente? Pois então, elas são belas, elas são artísticas. Tais cenas nos emocionam não só pelo medo que causam, mas porque foram bem concebidas e despertam no público exatamente as emoções que seu autor tinha a intenção de provocar. Portanto a beleza depende também da habilidade do artista em expressar uma ideia e em nos despertar a emoção própria da beleza.
A beleza não é um valor universal, o que é belo para você pode não ser para o outro, de outra idade, de outra cultura, outro sexo ou outro temperamento. Aquilo que emociona em um determinado dia pode não parecer tão belo alguns dias depois, quando você estiver em outro estado de espírito, ou tiver visto ou ouvido outras coisas. A melhor maneira de apreciar a arte, como nos ensina Peter Brook, é estar atento para o prazer que ela dá e tentar perceber o que o causa e de onde vem esse prazer. Tornamo-nos então conscientes da beleza e daquilo com que nos identificamos cultural e emocionalmente, isto é, tornamo-nos conscientes do nosso gosto.
Além de todos esses pontos, não podemos esquecer que, os objetos artísticos, para serem percebidos como arte e apreciados esteticamente, têm que, de alguma forma, fazer parte do universo cultural de quem os percebe e aprecia.
A própria história da arte, procurando definir os diversos movimentos estéticos da arte ocidental, tem posto em evidência a diversidade dos princípios estéticos e das tendências dos artistas de uma época para outra.  
No Renascimento os artistas procuravam resgatar da Antiguidade como simetria e equilíbrio. No Barroco, movimento seguinte, exploravam-se as curvas e o movimento. Esse e mais outros exemplos mostram que a beleza está condicionada a diversos critérios, conforme o tempo, o lugar, o sexo, a idade e o grupo ao qual pertencemos. A arte e o belo não são, portanto, conceitos universais. Confie na emoção que as coisas, as paisagens, as palavras e os sons despertam em você e desconfie daqueles que se julgam capazes de definir pelos outros, de forma inquestionável, o que é belo e o que é arte.
Para o observador ou apreciador o importante é deixar-se emocionar e aprender a distinguir o que aprecia e por quê. Além disso, se compreendemos que cada um tem sua sensibilidade, não ficaremos escandalizados com as preferências do outro e respeitaremos os gostos que são diferentes. Há um velho ditado que diz: “O que seria do azul se todos gostassem do amarelo”? Foi a respeito disso que falamos nesse texto: do gosto pessoal de cada um, do prazer desse gosto e daquilo que o condiciona.

COSTA, Cristina. Questões de Arte: o belo, a percepção estética e o fazer artístico. 1º ed. 5ª impressão. São Paulo: Editora Moderna, 2004.


Atividade

1.    Quais as características mais importantes da arte?
2.    O que vocês entenderam sobre “o prazer do belo, ou prazer estético”?
3.    Comente a afirmação de Peter Brook quando diz: “Para ser arte, uma interpretação deve ser capaz de estimular a imaginação do público que a ela se entrega”.
4.    Que elementos ou situações contribuem para que sintamos emoção perante uma obra de arte?
5.    Como vocês explicam o fato de cenas de suspense ou terror de alguns filmes e peças teatrais nos emocionarem?
6.    A partir do estudo do texto, o que vocês entendem por “Beleza”?
7.    Qual a melhor forma de apreciar a arte?
8.    O que é necessário para que alguns objetos possam ser percebidos como arte e apreciados esteticamente?
9.    Diferencie os princípios estéticos do Renascimento e do barroco.
10. Explique com suas palavras a ideia do texto eleita pelo grupo como a mais importante, ou seja, o aprendizado maior que vocês tiveram a partir da leitura e estudo desse texto.


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