"A arte é a contemplação: é o prazer do espírito que penetra a natureza e descobre que ela também tem uma alma. É a missão mais sublime do homem, pois é o exercício do pensamento que busca compreender o universo, e fazer com que os outros o compreendam." (Auguste Rodin)

quarta-feira, 19 de outubro de 2011

1ª SÉRIE - TEXTO 4 - 4ª UNIDADE


O Teatro no Brasil

A implantação do teatro no Brasil foi obra dos jesuítas, empenhados em catequizar os índios para o catolicismo e coibir os hábitos condenáveis dos colonizadores portugueses. O padre José de Anchieta, em quase uma dezena de autos inspirados na dramaturgia religiosa medieval e também Gil Vicente, notabilizaram-se nessa tarefa, de preocupação mais religiosa do que artística.
O teatro dessa época era uma produção sem continuidade e permaneceu sem registro nos séculos XVII e XVIII, salvo alguns documentos esparsos. Sabe-se, de qualquer forma, que se ergueram "casas da ópera" nesse último século, no Rio, em Vila Rica, Diamantina, Recife, São Paulo, Porto Alegre e Salvador, atestando a existência de uma atividade cênica regular. A sala de espetáculos de Vila Rica (atual Ouro Preto) é considerada a mais antiga da América do Sul.

A transferência da corte portuguesa para o Rio, em 1808, trouxe inegável progresso para o teatro, consolidado pela Independência, em 1822, a que se ligou logo depois o romantismo, de cunho nacionalista. O ator João Caetano formou, em 1833, uma companhia brasileira, com o propósito de "acabar assim com a dependência de atores estrangeiros para o nosso teatro". Seu nome vinculou-se a dois acontecimentos fundamentais da história dramatúrgica nacional: a estréia, a 13 de março de 1838, de O Poeta e a Inquisição, "a primeira tragédia escrita por um brasileiro, e única de assunto nacional", de autoria de Gonçalves de Magalhães e, a 4 de outubro daquele ano, de O Juiz de Paz na Roça, em que Martins Pena abriu o rico filão da comédia de costumes, o gênero mais característico da nossa tradição cênica.
Leonor de Mendonça, de Gonçalves Dias, distingue-se como o melhor drama romântico brasileiro, cuja trama caracteriza-se como precursora do manifesto feminista. E a comédia de costumes marcou as escolas sucessivas, do romantismo e até do simbolismo, passando pelo realismo e pelo naturalismo. As peças mais expressivas foram escritas por Joaquim Manoel de Macedo, José de Alencar, Machado de Assis e Artur Azevedo.
A Semana de Arte Moderna de 1922, marco da modernidade artística, não teve a presença do teatro. Só na década seguinte Oswald de Andrade, um de seus líderes, publicou três peças, entre as quais O Rei da Vela, que se tornou em 1967 o manifesto do tropicalismo.

Teatro Brasileiro de Comédia
Criado em São Paulo, em 1948, pelo industrial italiano Franco Zampari, o Teatro Brasileiro de Comédia era, inicialmente, apenas um espaço para abrigar os grupos amadores. Ao verificar-se a inviabilidade econômica da iniciativa, nesse esquema, organizou-se uma companhia profissional, que aproveitou os melhores atores desses grupos, aos quais se agregaram outros, vindos do Rio.
Em pouco tempo o TBC chegou a ter o melhor elenco jovem do País, em que se distinguiam Cacilda Becker, Tônia Carrero, Fernanda Montenegro, Cleyde Yáconis, Nathalia Timberg, Tereza Rachel, Paulo Autran, Sérgio Cardoso, Jardel Filho, Walmor Chagas, Ítalo Rossi e muitos outros. A encenação estava confiada a europeus e, em certos momentos, até quatro deles se alternavam nas montagens.
A necessidade do momento era a implantação de um teatro de equipe, em que todos os papéis recebiam o mesmo tratamento, e se valorizavam igualmente a cenografia, o figurino e a política de variedade de repertório, revezando-se em cartaz peças de diversos autores como Sófocles, Goldoni, Strindberg, Shaw, Pirandello, Tennessee Williams, Arthur Miller, entre muitos outros.

O Teatro de Arena de São Paulo
A principal característica do Teatro de Arena, fundado em São Paulo em 1953, tendo à frente José Renato - vindo, como outros, da Escola de Arte Dramática -, foi a de nacionalizar o palco brasileiro, a partir da estréia de Eles Não Usam Black-tie, de Gianfrancesco Guarnieri, em 1958.
No início, o grupo, que foi o primeiro na América do Sul a utilizar a cena circular envolvida pelo público, visava sobretudo à economia do espetáculo, adotando as mesmas idéias estéticas do Teatro Brasileiro de Comédia, com o ecletismo (variedade) de repertório. Sem a necessidade de cenários, atuando em locais improvisados, o grupo podia abolir muitas despesas.
Mesmo assim, tendo inaugurado em 1955 a sua sede, o Arena, em difícil situação financeira, preferiu fechar as portas com uma peça de um de seus atores, originário do Teatro Paulista do Estudante, ao qual se uniu para formar-se o Elenco Estável: Gianfrancesco Guarnieri. Eles não usam Black-tie não só se constituiu um grande sucesso de mais de um ano em cartaz, como iniciou a linha de prestígio da dramaturgia brasileira.
Veio, em 1964, o golpe militar, e ocorreu uma forte censura ao teatro nacional. Afirmou-se então um teatro de resistência à ditadura, desde os grupos mais engajados, como o Arena e o Oficina de São Paulo e o Opinião, do Rio, aos dramaturgos como Gianfrancesco Guarnieri, Augusto Boal, Dias Gomes, Oduvaldo Vianna Filho e Plínio Marcos.
O Arena, com a direção de Augusto Boal por quinze anos, empenhou-se também na procura de um estilo brasileiro de encenação e de desempenho. A seguir, promoveu a nacionalização dos clássicos. Veio depois a fase dos musicais, expressa por Arena Conta Zumbi e Arena Conta Tiradentes, de Guarnieri e Boal. Depois foi o momento de abrasileirar-se o teatro épico de Brecht.
A repressão violenta da ditadura, principalmente com o Ato Institucional nº 5, de 1968, ainda permitiu a Augusto Boal fazer a experiência do Teatro Jornal, primeiro passo de seu Teatro do Oprimido, que se desenvolveu no exterior nas formas do Teatro Invisível e do Teatro-Foro. Mas, seu exílio em 1971, já estando afastadas outras pessoas do grupo, interrompeu a grande trajetória do Teatro de Arena.

Teatro Oficina
Criado em 1958 por um grupo de estudantes da Escola de Direito, em São Paulo, o Teatro Oficina distinguiu-se por ter absorvido, na década de 60, toda a experiência cênica internacional, vinda de fins do século passado até aqueles dias, dando-lhe características totalmente brasileiras.
A primeira grande realização do elenco, em 1963, foi Pequenos Burgueses, de Górki, dirigida por José Celso Martinez Corrêa, responsável por todas as montagens subseqüentes de maior qualidade. A crítica reconheceu nela o melhor exemplo de encenação realista produzida no Brasil.
A estréia de O Rei da Vela, em 1967, teve o mérito de incorporar Oswald de Andrade, com um texto publicado em 1937, à História do Teatro Brasileiro, e de fazer parte do movimento batizado como tropicalismo, de repercussão em outras artes.
Incansável na sua busca, o Oficina pretendeu romper as fronteiras convencionais do teatro, fazendo "te-ato" em Gracias, Senior, criação coletiva de seus atuadores, não mais intérpretes, em 1972. Com características do Living Theatre norte-americano, a montagem foi discutida em virtude de posturas autoritárias que parecia conter. A rigidez da censura política, os problemas internos do grupo e o exílio de José Celso puseram fim à aventura brilhante do Oficina. Entretanto, ainda hoje José Celso representa um ícone de resistência na luta pela sobrevivência de um teatro crítico-experimental brasileiro.

Antunes FilhoCentro de Pesquisas Teatrais (CPT)
Trabalhou como assistente de direção no  TBC, onde desenvolveu a disciplina e técnica.
Com a estréia de Macunaíma, de Mário de Andrade, em 1978, Antunes Filho assumiu a criação radical do espetáculo, inaugurando a hegemonia dos encenadores-criadores.
Entre os espetáculos que criou estão Macunaíma, da obra de Mário de Andrade, que percorreu vinte países e Trono de Sangue, baseada na obra Macbeth de William Shakespeare. Vários atores de renome passaram por sua supervisão, como Luis Melo, que foi protagonista de vários espetáculos, como Trono de Sangue, além de Giulia Gam, Maitê Proença, Alessandra Negrini e Cláudia Abreu, entre outros.

Adaptação de texto de Sábato Malgadi
Referências:
www.obrchopero.hpg.ig.com.br
www.canalkids.com.br 

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