"A arte é a contemplação: é o prazer do espírito que penetra a natureza e descobre que ela também tem uma alma. É a missão mais sublime do homem, pois é o exercício do pensamento que busca compreender o universo, e fazer com que os outros o compreendam." (Auguste Rodin)

sexta-feira, 19 de outubro de 2012

3ª Série - 2ª Unidade- Texto 2: CARYBÉ



Hector Julio Páride Bernabó,  foi um pintor, gravador, desenhista, ilustrador, ceramista, escultor, muralista, pesquisador, historiador e jornalista argentino naturalizado e radicado no Brasil. Ficou internacionalmente conhecido como Carybé, um destacado artista plástico figurativo do século 20.
Nascido em 7 de fevereiro de 1911, na pequena cidade de Lanús, subúrbio de Buenos Aires, o pintor viveu em Gênova e Roma (Itália) dos 6 meses aos 8 anos. Em 1919, veio morar no Brasil onde completou os estudos secundários no Rio de Janeiro e estudou na Escola Nacional de Belas Artes.
Aprendeu a desenhar em casa, vendo os irmãos mais velhos Arnaldo e Roberto que eram desenhistas, pintavam, esculpiam e trabalhavam em publicidade. Aos 21 anos Carybé começou a desenhar. Fazia cartuns, charges, ilustrações e escrevia - texto conciso, exato e bem humorado - tendo colaborado com diversos jornais e revistas de Buenos Aires e do Rio.
Naturalizado brasileiro, Hector Julio Páride Bernabó ficou internacionalmente conhecido como Carybé, um destacado artista plástico figurativo do século 20.
Em 1927, retornou para a Argentina, onde trabalhou em diversos jornais, até que o periódico 'Prégon' o contratou para viajar por vários países fazendo e enviando desenhos e reportagens de onde passasse. Com isso, Carybé começou a ter contato com várias culturas e diferentes formas de expressão artística, que influenciaram o seu trabalho como pintor. Em uma dessas viagens conheceu Salvador, onde começou a ter contato com a cultura baiana.
Até meados dos anos 40, Carybé viveu entre vários países, mas sempre retornando ao Brasil. Neste período, trabalhou como ilustrador de obras literárias e traduziu o livro Macunaíma, de Mário de Andrade, para o espanhol. Em 1943, fez sua primeira exposição individual e ilustrou o livro "Macumba, Relatos de la Tierra Verde", de Bernardo Kordan.
Em 1946, casou-se com Nancy, na província argentina de Salta, com quem teve dois filhos, o artista plástico Ramiro e a bióloga Solange. Após várias viagens para Salvador, em 1950 foi morar definitivamente na capital baiana, onde, através de uma carta de recomendação de Rubem Braga, foi contratado para fazer murais em prédios e obras públicas.
Durante os quase 50 anos em que viveu na Bahia, Carybé desenvolveu uma profunda relação com a cultura e com os artistas de Salvador. As manifestações culturais locais, como o candomblé, a capoeira e o samba de roda, passaram a marcar a sua obra. Ao lado de outros artistas plásticos, como Jenner Augusto, Mário Cravo e Genaro de Carvalho, participou ativamente do movimento de renovação das artes plásticas no Estado.
Bastante eclético, Carybé experimentou ao longo de sua vida grande parte das técnicas artísticas conhecidas, como aquarelas, desenhos, ilustrações, pinturas, esboços, gravuras, esculturas, talhas, cerâmicas e murais. Utilizou-se de diferentes estilos e técnicas (modelagem, incrustação, entalhe, alto e baixo relevo, cinzelação, mosaico, aquarela, pintura a óleo) aplicadas em diversos materiais ou suportes (madeira, cimento, argila, ferro, búzios, pedra, ladrilhos). Além desses trabalhos, destacou-se também na criação de diversos murais pelo mundo, entre eles, um no Aeroporto de Nova York.
Em 1938, chega a Salvador o jornalista, pintor e artista plástico argentino Hector Júlio Páride de Bernabó, melhor conhecido como Carybé. Trabalhou nas docas do porto e participou nas suas festas populares, conheceu o mestre Bimba e aprendeu capoeira, e apaixonou-se na Bahia com corpo e alma, "tarrafeado por sua luz, sua gente, seu mar e sua terra", como ele mesmo disse. Por esse motivo, partiria para retornar alguns anos depois com a firme intenção de aqui permanecer para sempre,  tornando-se, através dos seus desenhos e pinturas, um dos  mais importantes expoentes da cultura popular da Bahia.
Suas obras têm como características o uso de muitas cores e formas, como murais alegres de diversos temas.
Em 1957, o artista naturalizou-se brasileiro. Entre seus grandes amigos no país, destacou-se o escritor Jorge Amado, que escreveu, em sua homenagem, 'O Capeta Carybé'. Na obra, o artista foi definido como "feito de enganos, confusões, histórias absurdas, aparentes contradições, e, ao mesmo tempo, é a própria simplicidade". Carybé fez desenhos em inúmeras obras de Amado, além de ilustrar trabalhos para livros de outros autores de grande expressão, como Mário de Andrade, Gabriel García Márquez e Pierre Verger.
O artista também escreveu livros como 'Olha o Boi' e foi coautor da obra 'Bahia, Boa Terra Bahia', com Jorge Amado. Em 1981, após 30 anos de pesquisa, publicou a Iconografia dos Deuses Africanos no Candomblé da Bahia. Realizou também roteiros gráficos, direção artística e figurinos para teatro e cinema.
Carybé foi o artista que olhou, observou, entendeu e curtiu a América Latina e todo o seu mistério. Foi o artista que respeitou suas origens e no seu trabalho deu uma dignidade especial aos negros, aos índios, a pessoas humildes, sejam quais fossem as situações em que os colocava, e nunca se desviou do seu caminho para ingressar em movimentos artísticos e pretensas vanguardas. Registrou nas suas obras cenas e cenários muito brasileiros, como vilarejos de pescadores, bailarinas, saídas de igreja e pausas de vaqueiros. Sua obra levou a Bahia mundo afora. Por isso Jorge Amado fala de Carybé como "exemplo notável em sua arte, que recria a realidade do país e da vida popular que ele conhece como poucos, por tê-la vivido como ninguém".
As características da pintura de Carybé, são as cores vibrantes as formas marcadas pelo traço reto, caracterizaram sua obra em fonte singular no apanhado do cotidiano baiano.
No Brasil, Carybé deixou seus trabalhos em Salvador, Rio de Janeiro e São Paulo. Na Bahia, o artista aprendeu capoeira com o mestre Bimba, frequentou Candomblés, desenhou e pintou. Em 1951, o artista recebeu a Medalha de Ouro da 1ª Bienal Internacional de Livros e Artes Gráficas, pelas ilustrações do livro Bahia, Imagens da Terra e do Povo, de Odorico Tavares.
Por quase toda a sua vida, o pintor acreditou que o seu apelido Carybé provinha de um pássaro da fauna brasileira. Somente muitos anos depois, através do amigo Rubem Braga, descobriu que seu nome artístico significava 'mingau ralo', o que lhe rendeu diversas brincadeiras.
Uma parte da obra de Carybé se encontra no Museu Afro-Brasileiro de Salvador. São 27 painéis representando os orixás do candomblé da Bahia. Cada prancha apresenta um orixá com suas armas e animal litúrgico. Foram confeccionadas em madeira de cedro, com trabalhos de entalhe e incrustações de materiais diversos, para atender a uma encomenda do antigo Banco da Bahia S.A., que os instalou em sua agência da Avenida Sete de Setembro, no ano de 1968.
Jorge Amado, em O Capeta Carybé, traz muitos relatos sobre seu grande amigo Carybé, cuja riqueza de vida é quase ficção: aventuras de sobrevivência, casamento, andanças desde Buenos Aires, sua terra natal, até a Bahia.
Frequentador do terreiro de candomblé Ilê Axé Opô Afonjá, Carybé morreu aos 86 anos, no dia 1° de outubro de 1997, em Salvador, durante uma cerimônia no próprio terreiro. O artista deixou como legado mais de 5.000 trabalhos, entre pinturas, desenhos, esculturas e esboços.
"Um elemento principal na pintura de Carybé é o movimento, o ritmo, a surpresa, que ele quer que conviva com uma exigência do seu espírito: a do nada deixado por fazer, a do nada ambíguo, pouco reconhecível, da definição do pormenor, como a unir a serenidade da obra clássica à multiplicidade de sugestões e o descompromisso do esboço. A entrada em cena de relevos e incrustações - trazendo à tona outra face, a do experimentalista - estimula a tensão crescente, que começa a ser notada à medida que sua pintura vai se destacando dos bicos-de-pena, guaches e aquarelas e se dirigindo para os maiores formatos dos murais e para a escultura propriamente dita. (...) Como os muralistas mexicanos, Carybé, pode-se dizer, nunca pintou paisagem (...). É verdade que em seus quadros não enfatiza a injustiça social nem prega revolução, não estando os seus descamisados ali para mostrar ´una flacura esquelética´ nem ameaçar burgueses de ´grueso abdome´: Carybé não crê na pintura social. Não crê no social de nenhuma arte. (...) Mas sua maior e declarada influência no tempo em que desenhava para jornais foi George Grosz (...) 'Quatro nomes influenciaram minha arte: Van Gogh, Gauguin, Modigliani, Grosz e meu irmão Bernabó, que me ensinou o básico do desenho'.”
“Salvador é uma cidade que parece encomendada para artistas plásticos, para escritores, cineastas. Enfim, tudo lá é uma espécie de incubadeira para essa gente."
 Carybé.

Referência: - José Cláudio da Silva - In: FURRER, Bruno. Carybé. Salvador: Fundação Emílio Odebrecht, 1989.

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