Hector Julio Páride Bernabó, foi um
pintor, gravador, desenhista, ilustrador, ceramista, escultor, muralista,
pesquisador, historiador e jornalista argentino naturalizado e radicado no
Brasil. Ficou internacionalmente conhecido como Carybé, um destacado artista
plástico figurativo do século 20.
Nascido
em 7 de fevereiro de 1911, na pequena cidade de Lanús, subúrbio de Buenos
Aires, o pintor viveu em Gênova e Roma (Itália) dos 6 meses aos 8 anos. Em
1919, veio morar no Brasil onde completou os estudos secundários no Rio de
Janeiro e estudou na Escola Nacional de Belas Artes.
Aprendeu a desenhar em casa, vendo os
irmãos mais velhos Arnaldo e Roberto que eram desenhistas, pintavam, esculpiam
e trabalhavam em publicidade. Aos 21 anos Carybé começou a desenhar. Fazia
cartuns, charges, ilustrações e escrevia - texto conciso, exato e bem humorado
- tendo colaborado com diversos jornais e revistas de Buenos Aires e do Rio.
Naturalizado brasileiro, Hector Julio
Páride Bernabó ficou internacionalmente conhecido como Carybé, um destacado
artista plástico figurativo do século 20.
Em
1927, retornou para a Argentina, onde trabalhou em diversos jornais, até que o
periódico 'Prégon' o contratou para viajar por vários países fazendo e enviando
desenhos e reportagens de onde passasse. Com isso, Carybé começou a ter contato
com várias culturas e diferentes formas de expressão artística, que
influenciaram o seu trabalho como pintor. Em uma dessas viagens conheceu
Salvador, onde começou a ter contato com a cultura baiana.
Até
meados dos anos 40, Carybé viveu entre vários países, mas sempre retornando ao
Brasil. Neste período, trabalhou como ilustrador de obras literárias e traduziu
o livro Macunaíma, de Mário de Andrade, para o espanhol. Em 1943, fez sua
primeira exposição individual e ilustrou o livro "Macumba, Relatos de la
Tierra Verde", de Bernardo Kordan.
Em
1946, casou-se com Nancy, na província argentina de Salta, com quem teve dois
filhos, o artista plástico Ramiro e a bióloga Solange. Após várias viagens para
Salvador, em 1950 foi morar definitivamente na capital baiana, onde, através de
uma carta de recomendação de Rubem Braga, foi contratado para fazer murais em
prédios e obras públicas.
Durante
os quase 50 anos em que viveu na Bahia, Carybé desenvolveu uma profunda relação
com a cultura e com os artistas de Salvador. As manifestações culturais locais,
como o candomblé, a capoeira e o samba de roda, passaram a marcar a sua obra.
Ao lado de outros artistas plásticos, como Jenner Augusto, Mário Cravo e Genaro
de Carvalho, participou ativamente do movimento de renovação das artes
plásticas no Estado.
Bastante
eclético, Carybé experimentou ao longo de sua vida grande parte das técnicas
artísticas conhecidas, como aquarelas, desenhos, ilustrações, pinturas,
esboços, gravuras, esculturas, talhas, cerâmicas e murais.
Utilizou-se de diferentes estilos e técnicas (modelagem, incrustação, entalhe,
alto e baixo relevo, cinzelação, mosaico, aquarela, pintura a óleo) aplicadas
em diversos materiais ou suportes (madeira, cimento, argila, ferro, búzios,
pedra, ladrilhos). Além
desses trabalhos, destacou-se também na criação de diversos murais pelo mundo,
entre eles, um no Aeroporto de Nova York.
Em 1938, chega a Salvador o jornalista,
pintor e artista plástico argentino Hector Júlio Páride de Bernabó, melhor
conhecido como Carybé. Trabalhou nas docas do porto e participou nas suas
festas populares, conheceu o mestre Bimba e aprendeu capoeira, e apaixonou-se
na Bahia com corpo e alma, "tarrafeado por sua luz, sua gente, seu mar e
sua terra", como ele mesmo disse. Por esse motivo, partiria para retornar
alguns anos depois com a firme intenção de aqui permanecer para sempre,
tornando-se, através dos seus desenhos e pinturas, um dos mais
importantes expoentes da cultura popular da Bahia.
Suas obras têm como características o uso
de muitas cores e formas, como murais alegres de diversos temas.
Em
1957, o artista naturalizou-se brasileiro. Entre seus grandes amigos no país,
destacou-se o escritor Jorge Amado, que escreveu, em sua homenagem, 'O Capeta
Carybé'. Na obra, o artista foi definido como "feito de enganos, confusões,
histórias absurdas, aparentes contradições, e, ao mesmo tempo, é a própria
simplicidade". Carybé fez desenhos em inúmeras obras de Amado, além de
ilustrar trabalhos para livros de outros autores de grande expressão, como
Mário de Andrade, Gabriel García Márquez e Pierre Verger.
O
artista também escreveu livros como 'Olha o Boi' e foi coautor da obra 'Bahia,
Boa Terra Bahia', com Jorge Amado. Em 1981, após 30 anos de pesquisa, publicou
a Iconografia dos Deuses Africanos no Candomblé da Bahia. Realizou também
roteiros gráficos, direção artística e figurinos para teatro e cinema.
Carybé foi o artista que olhou, observou,
entendeu e curtiu a América Latina e todo o seu mistério. Foi o artista que
respeitou suas origens e no seu trabalho deu uma dignidade especial aos negros,
aos índios, a pessoas humildes, sejam quais fossem as situações em que os
colocava, e nunca se desviou do seu caminho para ingressar em movimentos
artísticos e pretensas vanguardas. Registrou nas suas obras cenas e cenários
muito brasileiros, como vilarejos de pescadores, bailarinas, saídas de igreja e
pausas de vaqueiros. Sua obra levou a Bahia mundo afora. Por isso Jorge Amado
fala de Carybé como "exemplo notável em sua arte, que recria a realidade
do país e da vida popular que ele conhece como poucos, por tê-la vivido como
ninguém".
As características da pintura de Carybé,
são as cores vibrantes as formas marcadas pelo traço reto, caracterizaram sua
obra em fonte singular no apanhado do cotidiano baiano.
No Brasil, Carybé deixou seus trabalhos em
Salvador, Rio de Janeiro e São Paulo. Na Bahia, o artista aprendeu capoeira com
o mestre Bimba, frequentou Candomblés, desenhou e pintou. Em 1951, o artista
recebeu a Medalha de Ouro da 1ª Bienal Internacional de Livros e Artes
Gráficas, pelas ilustrações do livro Bahia, Imagens da Terra e do Povo, de
Odorico Tavares.
Por
quase toda a sua vida, o pintor acreditou que o seu apelido Carybé provinha de
um pássaro da fauna brasileira. Somente muitos anos depois, através do amigo
Rubem Braga, descobriu que seu nome artístico significava 'mingau ralo', o que
lhe rendeu diversas brincadeiras.
Uma parte da obra de Carybé se encontra no Museu
Afro-Brasileiro de Salvador. São 27 painéis representando os orixás do
candomblé da Bahia. Cada prancha apresenta um orixá com suas armas e animal
litúrgico. Foram confeccionadas em madeira de cedro, com trabalhos de entalhe e
incrustações de materiais diversos, para atender a uma encomenda do antigo
Banco da Bahia S.A., que os instalou em sua agência da Avenida Sete de
Setembro, no ano de 1968.
Jorge Amado, em O Capeta Carybé, traz muitos relatos sobre
seu grande amigo Carybé, cuja riqueza de vida é quase ficção: aventuras de
sobrevivência, casamento, andanças desde Buenos Aires, sua terra natal, até a
Bahia.
Frequentador
do terreiro de candomblé Ilê Axé Opô Afonjá, Carybé morreu aos 86 anos, no dia
1° de outubro de 1997, em Salvador, durante uma cerimônia no próprio terreiro.
O artista deixou como legado mais de 5.000 trabalhos, entre pinturas, desenhos,
esculturas e esboços.
"Um elemento principal na pintura de
Carybé é o movimento, o ritmo, a surpresa, que ele quer que conviva com uma
exigência do seu espírito: a do nada deixado por fazer, a do nada ambíguo,
pouco reconhecível, da definição do pormenor, como a unir a serenidade da obra
clássica à multiplicidade de sugestões e o descompromisso do esboço. A entrada
em cena de relevos e incrustações - trazendo à tona outra face, a do
experimentalista - estimula a tensão crescente, que começa a ser notada à
medida que sua pintura vai se destacando dos bicos-de-pena, guaches e aquarelas
e se dirigindo para os maiores formatos dos murais e para a escultura
propriamente dita. (...) Como os muralistas mexicanos, Carybé, pode-se dizer,
nunca pintou paisagem (...). É verdade que em seus quadros não enfatiza a
injustiça social nem prega revolução, não estando os seus descamisados ali para
mostrar ´una flacura esquelética´ nem ameaçar burgueses de ´grueso abdome´:
Carybé não crê na pintura social. Não crê no social de nenhuma arte. (...) Mas
sua maior e declarada influência no tempo em que desenhava para jornais foi
George Grosz (...) 'Quatro nomes influenciaram minha arte: Van Gogh, Gauguin,
Modigliani, Grosz e meu irmão Bernabó, que me ensinou o básico do desenho'.”
“Salvador é uma cidade que parece
encomendada para artistas plásticos, para escritores, cineastas. Enfim, tudo lá
é uma espécie de incubadeira para essa gente."
Carybé.
Referência: -
José Cláudio da Silva - In: FURRER, Bruno. Carybé. Salvador: Fundação Emílio
Odebrecht, 1989.
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