"A arte é a contemplação: é o prazer do espírito que penetra a natureza e descobre que ela também tem uma alma. É a missão mais sublime do homem, pois é o exercício do pensamento que busca compreender o universo, e fazer com que os outros o compreendam." (Auguste Rodin)

segunda-feira, 14 de novembro de 2011

3ª SÉRIE - MODERNISMO - 4ª UNIDADE

Definição

O modernismo no Brasil tem como marco simbólico a Semana de Arte Moderna, realizada em São Paulo, no ano de 1922, considerada um divisor de águas na história da cultura brasileira. O evento - organizado por um grupo de intelectuais e artistas por ocasião do Centenário da Independência - declara o rompimento com o tradicionalismo cultural associado às correntes literárias e artísticas anteriores: o parnasianismo, o simbolismo e a arte acadêmica. A defesa de um novo ponto de vista estético e o compromisso com a independência cultural do país fazem do modernismo sinônimo de "estilo novo", diretamente associado à produção realizada sob a influência de 1922. Heitor Villa-Lobos na música; Mário de Andrade e Oswaldo de Andrade, na literatura; Victor Brecheret, na escultura; Anita Malfatti e Di Cavalcanti, na pintura, são alguns dos participantes da Semana, realçando sua abrangência e heterogeneidade. Os estudiosos tendem a considerar o período de 1922 a 1930, como a fase em que se evidencia um compromisso primeiro dos artistas com a renovação estética, beneficiada pelo contato estreito com as vanguardas européias (cubismo, futurismo, surrealismo etc.). Tal esforço de redefinição da linguagem artística se articula a um forte interesse pelas questões nacionais, que ganham acento destacado a partir da década de 1930, quando os ideais de 1922 se difundem e se normalizam. Ainda que o modernismo no Brasil deva ser pensado a partir de suas expressões múltiplas - no Rio de Janeiro, Minas Gerais, Pernambuco etc. - a Semana de Arte Moderna é um fenômeno eminentemente urbano e paulista, conectado ao crescimento de São Paulo na década de 1920, à industrialização, à migração maciça de estrangeiros e à urbanização.
Apesar da força literária do grupo modernista, as artes plásticas estão na base do movimento. O impulso teria vindo da pintura, da atuação de Di Cavalcanti à frente da organização do evento, das esculturas de Brecheret e, sobretudo, da exposição de Anita Malfatti, em 1917. Os trabalhos de Anita desse período (O Homem Amarelo, a Estudante Russa, A Mulher de Cabelos Verdes, A Índia, A Boba, O Japonês etc.) apresentam um compromisso com os ensinamentos da arte moderna: a pincelada livre, a problematização da relação figura/fundo, o trato da luz sem o convencional claro-escuro. A obra de Di Cavalcanti segue outra direção. Autodidata, Di Cavalcanti trabalha como ilustrador e caricaturista. O traço simples e estilizado se tornará a marca de sua linguagem gráfica. A pintura, iniciada em 1917, não apresenta orientação definida. Suas obras revelam certo ecletismo, alternando o tom romântico e "penumbrista" (Boêmios, 1921) com as inspirações em Pablo Picasso, Georges Braque e Paul Cézanne, que o levam à geometrização da forma e à exploração da cor (Samba e Modelo no Atelier, ambas de 1925). Os contrastes cromáticos e os elementos ornamentais da pintura de Henri Matisse, por sua vez, estão na raiz de trabalhos como Mulher e Paisagem, 1931. A formação italiana e a experiência francesa marcam as esculturas de Brecheret. Autor da maquete do Monumento às Bandeiras, 1920, e de 12 peças expostas na Semana (entre elas, Cabeça de Cristo, Daisy e Torso), Brecheret é o escultor do grupo modernista, comparado aos escultores franceses Auguste Rodin e Emile Antoine Bourdelle pelos críticos da época.
Tarsila do Amaral não esteve presente ao evento de 1922, o que não tira o seu lugar de grande expoente do modernismo brasileiro. Associando a experiência francesa - e o aprendizado com André Lhote, Albert Gleizes e Fernand Léger - aos temas nacionais, a pintora produz uma obra emblemática das preocupações do grupo modernista. Da pintura francesa, especialmente das "paisagens animadas" de Léger, Tarsila retira a imagem da máquina como ícone da sociedade industrial e moderna. As engrenagens produzem efeito estético preciso, fornecendo uma linguagem aos trabalhos: seus contornos, cores e planos modulados introduzem movimento às telas, como em E.F.C.B., 1924 e A Gare, 1925. A essa primeira fase "pau-brasil", caracterizada pelas paisagens nativas e figurações líricas. Nessa fase as pinturas de Tarsila exaltavam a natureza tropical, os tipos humanos, como cxaboclos e negros, e a tranqüilidade das pequenas cidades brasileiras dentro das combinações de tons rosa e azul.
A Fase Antropofágica aparece no trabalho de Tarsila quando ela utiliza tudo o que aprendeu na Europa e transforma em arte tipicamente brasileira. É o que aconteceu em Urutu. Ali Tarsila representou as imagens de pureza e de liberdade guardadas de sua infância. A redução de cores e de elementos, as imagens oníricas e a atmosfera surrealista (por exemplo, Urutu, O Touro e O Sono, de 1928) marcam os traços essenciais desse momento.
A Fase Social: O mundo já não era mais o mesmo. Nem Tarsila...
Uma crise econômica em Nova York, em 1929, atingiu o mundo todo, inclusive o Brasil. A vida de Tarsila passou por drásticas mudanças. A artista separou-se de Oswaldo de Andrade e a fazenda em que vivia foi Hipotecada. De volta a o Brasil, participou de reuniões políticas e chegou a ser presa por curto período. Obras como Operários e 2ª classe mostram bem esse momento.
Tarsila representou questões sociais retratando pessoas tristes e oprimidas, a miséria, a dor e a desigualdade das raças.  
Candido Portinari pode ser tomado como expressão típica do modernismo de 1930. À pesquisa de temas nacionais e ao forte acento social e político dos trabalhos associam-se o cubismo de Picasso, o muralismo mexicano e a Escola de Paris (entre outros, Mestiço, 1934, Mulher com Criança, 1938 e O Lavrador de Café, 1939). Lasar Segal, formado no léxico expressionista alemão, aproxima-se dos modernistas em 1923, quando se instala no país. Parte de sua obra, ampla e diversificada, registra a paisagem e as figuras locais em sintonia com as preocupações modernistas (Mulato 1, 1924, O Bebedouro e Bananal, 1927).
Ainda que o termo modernismo remeta diretamente à produção realizada sob a égide de 1922 - na qual se incluem também os nomes de Vicente do Rego Monteiro, Antonio Gomide, John Graz e Zina Aita - a produção moderna no país deve ser pensada em chave ampliada, incluindo obras anteriores à década de 1920 - as de Eliseu Visconti e Castagneto, por exemplo -, e pesquisas que passaram ao largo da Semana de Arte Moderna, como as dos artistas ligados ao Grupo Santa Helena (Francisco Rebolo, Alfredo Volpi, Clóvis Gracioano etc.).

Artistas que se destacaram após a Semana de Arte Moderna
Após a Semana de Arte Moderna e a agitação que ela provocou nos meios artísticos, aos poucos novos artístas plásticos foram expondo suas obras, que se caracterizaram pela valorização da cultura brasileira. Esses artistas não eram adeptos dos princípios acadêmicos, mas preocupavam-se em dominar os aspectos técnicos da elaboração de uma obra de arte. Faziam parte desse grupo Cândido Portinari (1903-1962), Guignard (1896-1962), Ismael Nery (1900 – 1934), Cícero Dias (1908 -2003) e Bruno Giorgi (1905 – 1993).
Cândido Portinari: De um modo geral em sua pintura ele retratou pessoas de suas relações de amizade, desenvolveu cenas de retirantes nordestinos, de infância e tipos populares em Brodósqui, sua cidade natal, e de conteúdo social e histórico. Em seu quadro Café, temos um bom exemplo do seu olhar sobre o mundo do trabalho rural.
Cícero Dias: nasceu em Pernambuco e estudou pintura na Escola Nacional de Belas Artes do Rio de janeiro. Cedo, porém, abandonou as orientações acadêmicas para buscar um caminho pessoal.
Uma das obras mais importantes de Cícero Dias chama-se “Eu vi o mundo... ele começava no Recife”. Trata-se de um painel com aproximadamente treze metros de comprimento por dois de altura, pintado na década de 1920.
A partir de 1937, o pintor viveu na Europa, onde entrou em contato com intelectuais e artistas, ligando-se principalmente ao Surrealismo e, depois da Segunda Guerra Mundial, a tendências contemporâneas à sua produção. Seus trabalhos de juventude, que retratam de forma muito própria sua terra natal, e toda sua obra constituíram uma significativa contribuição para a arte moderna brasileira.

Referências:
PROENÇA, Graça. História da Arte. Ática. São Paulo. 2009.
Mestres das Artes no Brasil. Tarsila do Amaral. 1ª Ed. Editora Moderna. 1999

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