"A arte é a contemplação: é o prazer do espírito que penetra a natureza e descobre que ela também tem uma alma. É a missão mais sublime do homem, pois é o exercício do pensamento que busca compreender o universo, e fazer com que os outros o compreendam." (Auguste Rodin)

terça-feira, 4 de dezembro de 2012

1ª SÉRIE - REFLEXÕES SOBRE A ORIGEM DA DANÇA - Texto 2 - 2012


O ser humano começou a dançar há muitos milênios. A dança foi surgindo ao longo dos milênios a partir da linguagem dos gestos e dos movimentos de nossos antepassados
Todas as danças antigas tendiam à união cósmica, isto é, relacionavam-se com o cosmos, o universo. É assim que podemos entender o processo de desenvolvimento da dança, que auxiliou e auxilia o homem na expressão e no conhecimento da natureza e da cultura, da divindade e das questões religiosas.
Com o tempo essas danças foram se tornando cênicas, isto é, passaram a ser apresentadas ao público com uma função diferente daquela de adorar os deuses ou a natureza.
Em cavernas como as da Serra da Capivara, no Piauí (Brasil), de Altamira (Espanha) e de Lascaux (França) é possível observar desenhos traçados nas paredes com cenas de pessoas em roda, correndo, saltando, dançando. Vemos, também, nessas pinturas rupestres, homens vestidos com peles de animais e imitando suas posturas.
Assim, podemos inferir que essas pessoas reproduziam momentos da vida cotidiana em seus rituais. Suas danças simulavam a caça e tinham um poder mágico. Era como se estivessem caçando de verdade. Pode-se dizer que acreditavam que essas danças podiam atrair animais para a caça.
As danças também teriam o poder de ajudar a lidar com as forças da natureza, como as tempestades e os raios, por exemplo.
Quando deixou de ser nômade, o homem começou a plantar e a criar animais para seu próprio consumo. Foi assim que surgiram a agricultura e a pecuária.
Naquela época, a natureza era respeitada e adorada como uma deusa, e o homem criava rituais e oferendas em forma de danças que festejassem a vida, a morte, o sol, a lua, as estrelas, a terra e seu preparo para o plantio, a celebração da colheita e a fertilidade dos rebanhos.
Imaginamos que as danças dessas épocas eram a expressão do que o homem sentia em relação ao seu mundo. Segundo alguns estudos, quando sentia alegria em viver, os movimentos eram vigorosos e rápidos. A morte era mostrada com movimentos pesados e muito lentos. As danças de plantio e colheita eram feitas batendo-se os pés no chão e com gestos de mãos e braços que representavam os atos de espalhar a semente e recolher o alimento plantado.

A Dança no Egito: Os egípcios dançavam por várias razões, mas principalmente como forma de descobrir e entender o mundo à sua volta. Quando a noite chegava, fitavam o céu e começavam a se movimentar e a dançar expressando o que viam, sentiam e entendiam. Havia a Dança da Estrela da Manhã, que representava os estudos que os sábios da época estavam desenvolvendo a respeito do conhecimento de astronomia.
O ritmo das cheias e vazantes do rio Nilo comandava os trabalhos de semeadura e colheita, que eram celebrados com as Danças da Primavera.
Havia muitas outras danças relacionadas aos deuses egípcios e por isso, chamadas de Danças Sagradas ou Divinas. Eram executadas por um só dançarino ou por duplas do mesmo sexo. Podiam ser acompanhadas por palmas, que marcavam o ritmo. Os dançarinos faziam muitas acrobacias, como ficar com as mãos e pés no chão, com a barriga para cima e fazendo um arco com as costas (ponte).
Outra dança representava a deusa Íris (deusa da lua e da noite), à procura do corpo do irmão morto Osíris (deus dos campos e cereais), para queimá-lo em uma pira (vaso em que se queimavam os cadáveres) e assim fazê-lo ressuscitar para uma nova vida.
Para o deus Amon (deus do sol), acontecia a procissão da “barca sagrada”, na qual bailarinos acrobatas executavam muitas proezas incríveis, como hoje fazem os artistas de circo.
As Danças dos funerais eram cheias de surpresa. No meio da cerimônia, quando menos se esperava, apareciam os “mouros”, dançarinos que, em duplas, chegavam perto das pessoas fazendo gestos simétricos como se fosse o espelho do outro. Os egípcios acreditavam que esses movimentos assegurariam ao morto a passagem para uma nova vida.
Existiam também as Danças Profanas, não sagradas, que aconteciam por ocasião dos banquetes em honra aos vivos ou aos mortos e para entregar recompensas a funcionários, ou ainda, nomear alguém para um cargo melhor.
Outras danças, chamadas de Danças Civis, eram executadas por pessoas comuns, como os serviçais, mulheres do harém ou pessoas ligadas ao palácio.

A Dança na Grécia: Na cultura grega, a dança ocupava um lugar muito importante. Em documentos e livros podemos verificar como a dança estava presente na vida do cidadão grego e era acessível a todos. Imagens mostram a dança nos ritos religiosos, nas festas, no treinamento militar, na educação das crianças, na vida cotidiana.
A opinião de filósofos e poetas era muito respeitada nessa cultura. Segundo o filósofo Sócrates (470-399 AC), a dança formava um cidadão completo e nunca era tarde para se aprender a dançar.
Platão (428-347 AC) também considerava a dança como parte da educação dos cidadãos. Dizia que ela servia para santificar e curar os corpos, além de trazer mais agilidade, beleza e sabedoria.
Os cidadãos gregos acreditavam no poder das danças mágicas e dançavam para seus inúmeros deuses. Um dos mais conhecidos é o deus Dionísio, deus da fertilidade e do vinho. Acreditavam que a orquestra (representação que incluía música e dança) nasceu com os agricultores, que traziam a uva para a praça, no centro de Atenas, para fazer a pisa.  Enormes cachos de uva eram esmagados com os pés, em um movimento coordenado.
As Danças guerreiras faziam parte dos treinamentos militares. De difícil execução, tinham movimentos muito atléticos. Sabemos que os dançarinos usavam, em algumas dessas danças, saltos muito altos e máscaras.

Dança na Índia: Na Índia é importante notar que, dependendo da região, a tradição das danças foi passada de geração a geração e se conserva até hoje. E elas são praticamente imutáveis.
Uma das danças mais importantes e mantidas até hoje é a Dança de Shiva (deus da dança), que representa a criação do universo e o cuidado com o mundo para que ele esteja sempre em harmonia.
Algumas danças indianas são chamadas de Danças Ragas. Cada Raga tem suas cores e representa certos poemas que se referem a lendas que falam das estações do ano ou das horas do dia. Essas lendas e seus personagens são representados em algumas pinturas hindus.
Os movimentos simétricos do corpo são muito marcantes nas danças indianas. O espaço é bem definido, pois a distância entre o centro do palco e os lugares onde o dançarino deve executar seus movimentos é medida de maneira rigorosa, assim como a posição dos músicos.
Os gestos são chamados de Mudras e também são muito presentes em todas as danças. A eles é atribuído um poder espiritual. Um exemplo, é o gesto feito com as mãos que simboliza a flor de lótus. Totalmente branca, essa flor nasce na lama e significa a transformação da sombra em luz, o desenvolvimento pessoal e o contato com o divino.

A Dança na Idade Média: Durante a Idade Média, aproximadamente do século V até o século XIV, o cristianismo tornou-se a força mais influente na Europa. Foram proibidas as danças teatrais, por representantes da Igreja, pois algumas delas apresentavam movimentos muito sensuais.
Mas os dançarinos ambulantes continuaram a se apresentar nas feiras e aldeias, mantendo a dança teatral viva. Em torno do século XIV, as associações de artesãos promoviam a representação de elaboradas peças religiosas, nas quais a dança era uma das partes mais populares.
Quando ocorreu a peste negra, uma epidemia que causou a morte de um quarto da população, o povo cantava e dançava freneticamente nos cemitérios; eles acreditavam que essas encenações afastavam os demônios e impediam que os mortos saíssem dos túmulos e espalhassem a doença. Isto ocorreu no século XIV.
Durante toda a Idade Média, os europeus continuaram a festejar casamentos, feriados e outras ocasiões festivas com danças folclóricas, como a dança da corrente, que começou com os camponeses e foi adotada pela nobreza, numa forma mais requintada, sendo chamada de carola. No final da Idade Média a dança tornou-se parte de todos os acontecimentos festivos.
 
(FAHLBUSCH. Hannelore. Dança: moderna e contemporânea. Sprint. Rio de Janeiro 1990.)  

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