Como todas as artes, a dança é fruto da necessidade
de expressão do homem.
Em nossos dias, podemos dividir a dança em três
formas distintas: as religiosas (ou étnicas), as populares (ou folclóricas) e
as teatrais.
Danças
Religiosas: As danças populares ou
folclóricas nasceram, em princípio, de danças religiosas que pouco a pouco
foram sendo liberadas pelos sacerdotes de um culto para que as celebrações (de
casamentos, batizados, de uma boa colheita) passassem a ser realizadas em
praças públicas e não mais dentro dos templos. Essa liberação, cuja data
dificilmente se poderá saber (pois que sobre ela não há registro), significa um
progresso na história da dança. Ao passarem do domínio dos sacerdotes para o
domínio do povo, as manifestações religiosas transformaram-se em manifestações
populares. Assim, com o passar dos anos, a ligação com os deuses foi ficando
cada vez mais longínqua, e danças que nasceram religiosas foram gradualmente se
transformando em folclóricas.
Podemos citar algumas características da dança como
manifestação religiosa: 1) acontecia em locais especiais, como os templos; 2)
era privilégio dos sacerdotes; 3) realizavam-se dentro de cerimônias
específicas, devendo haver razões para a forma e as datas em que cada dança
tinha lugar.
Devemos lembrar que os deuses eram invocados e seu
auxílio solicitado por razões das mais diversas, fosse pedindo ou agradecendo.
Por isso os deuses eram lembrados por ocasião de nascimentos, casamentos,
mortes, guerras e colheitas, ou seja, em todas as ocasiões em que os homens
sentiam necessidade de apoio da divindade de sua adoração.
As danças pouco a pouco adquiriram uma coreografia
própria, ou seja, passos e gestos específicos a cada uma, com significado
próprio e que deveriam ser respeitados no contexto de cada uma das cerimônias.
Sabemos, por exemplo, que os soldados romanos
executavam, antes de cada batalha, danças guerreiras, nas quais pediam o apoio
de Marte, deus da guerra, para a luta que iriam iniciar. Se a princípio a dança
era executada por sacerdotes e um número pequeno de iniciados, aos poucos ela
foi abrangendo outros grupos, até ser dançada por boa parte dos soldados. Com o
passar do tempo o seu significado religioso foi sendo esquecido dando lugar a
manifestações de cunho popular ou folclórico.
As danças guerreiras de diversas regiões da Ásia e da
Europa Oriental se inserem nesse contexto. É importante notar que, durante
vários séculos, a dança era privilégio do sexo masculino, e só muito mais tarde
as mulheres passaram a participar ativamente das danças.
Sem sairmos do nosso próprio país, aqui encontramos,
entre os nossos indígenas e no candomblé, suficientes provas da ligação entre a
dança e o ato religioso. Encontramos também outras provas dessa tese em cultos
africanos e asiáticos que permanecem vivos no nosso tempo. Esses exemplos nos
mostram que, nos ritos religiosos antes do domínio da Igreja Católica, a danças
integravam quase que totalmente a noção de religião.
No caso das religiões afrobrasileiras e,
especialmente do candomblé, ocorreu um sincretismo que permitiu que essas
religiões sobrevivessem à guerra que lhes foi movida pela Igreja Católica. Os
negros identificaram seus orixás com os santos católicos e passaram a executar
seus ritos em lugares distantes e horas tardias, procurando evitar a
fiscalização da polícia. E tanto conseguiram que essas religiões e seus
derivativos, especialmente a umbanda, a quimbanda e o omolocô, são seguidos
hoje em dia por dezenas de milhões de brasileiros, muitos dos quais, ao
acenderem uma vela para Santa Bárbara de São Jorge, o fazem não só aos próprios
santos mas também a Yansã e a Ogun.
Segundo as estatísticas, temos hoje uma população
indígena de cerca de 10% da que existia em 1500. Dessa, uma parcela perdeu boa
parte de suas raízes e de sua civilização, mas pelo que restou podemos ter
ainda uma noção bastante nítida da ligação entre dança e religião através das
cerimônias de iniciação dos meninos na vida adulta, dos enterros e casamentos,
onde duas presenças são constantes: a dança e o pagé.
Danças Populares: A nossa dança popular (também conhecida como dança
folclórica) é, ao mesmo tempo, imensamente rica e pouco executada. Os livros
especializados na matéria indicam-nos centenas de danças, muitas das quais
sobrevivem apenas em pequenas cidades e morrem um pouco a cada ano que passa
com a falta de renovação de seus intérpretes e o pouco interesse das
autoridades competentes. Assim, um rico acervo cultural de nosso país vai se
diluindo no tempo e deixará de existir caso não haja uma ação firme por parte das
autoridades culturais.
De acordo com os especialistas, o folclore brasileiro
se divide em dois grupos principais: o urbano, ou aquele que é parte integrante
da vida da população das cidades e que domina principalmente o Norte e Nordeste
do Brasil; e o rural, que ocupa a maior parte do Sul e Centro-Oeste, mas que se
desenvolve principalmente nas aldeias e vilarejos, fora dos grandes centros
urbanos.
As pequenas cidades sofrem bem menos o impacto da
civilização e continuam a procurar o seu lazer dentro das manifestações
folclóricas, tal como faziam os seus antigos habitantes. Na verdade, essas
danças permanecem mais puras quando são interpretadas nos locais mais distantes
dos centros civilizados.
Essa divisão geral sofre uma subdivisão, de acordo
com os meios de subsistência de cada uma dessas áreas. Assim, as danças locais
sofrem, em seu contexto, o impacto do ambiente em que se desenvolvem. Essa
conexão aparece não só na coreografia em si, mas principalmente nos temas e nos
nomes dos personagens. Essas áreas são:
1) Marítima (pesca); 2) Agricultura; 3) Mineração; 4) Pastoreio; e 5) Região
Amazônica.
As festas das áreas marítimas estão geralmente
ligadas aos santos protetores dos marinheiros, que lhes proporcionam boa pesca
ou os protegem dos perigos do mar. Os cantos e danças dessas festas normalmente
contam a história de algum milagre ligado ao santo que é celebrado. Aqui se
percebe a influência clara de danças portuguesas e espanholas, não apenas nas
figuras formadas pelos dançarinos, mas também nos ritmos, nos instrumentos e
nos objetos usados durante as encenações. Essas danças só são executadas em
dias determinados e, na maioria das vezes, nas praças e jardins, diante das
igrejas. Pena que algumas dessas danças estão desaparecendo rapidamente.
Diversas delas sobrevivem em pequenas comunidades e seus intérpretes pertencem
à geração mais velha; talvez a tradição desapareça com eles. Parece haver um
vazio na renovação dos intérpretes – a juventude mostra-se atualmente mais
desinteressada em continuar as tradições.
Felizmente isso não acontece em todos os lugares.
Exatamente o contrário parece estar acontecendo no Nordeste, onde a renovação
dos intérpretes parece acontecer sem problemas. Na verdade, com o auxílio de
especialistas, algumas dessas danças estão ganhando uma nova força e voltando
com renovado impacto ao mundo da nossa cultura popular (nosso folclore). Em
certos estados, como Paraná, Maranhão, Rio Grande do Sul e Minas Gerais,
diversas sociedades foram formadas com o objetivo de preservar e divulgar a
cultura popular (folclore). Mas não há dúvida de que algumas danças
apresentadas em vilarejos distantes correm o risco de desaparecer. Na lista de
nossas danças populares, existem diversos “bailados” de natureza secular e de
origem africana. É possível que, em alguma época, tenham sido danças religiosas
antes de serem transportadas para o Brasil. Dentro dessa categoria estão a Congada,
o Maracatu (do baque solto e do baque virado), a Dança dos Pássaros, o Reisado,
o Moçambique, os Caboclinhos, o Quilombo, dentre muitas outras. O escritor e
folclorista Mario de Andrade deu-lhes o nome de “Danças Dramáticas”, pois
sempre contam uma história com significado dramático. Além destas, ainda
podemos citar inúmeras danças especificamente nordestinas como: ciranda, frevo,
maculelê, tambor de crioula, quadrilha, forró, samba de roda, cacuriá, côco, puxada
de rede e afoxés.
Se diversas dessas danças, como já dissemos, tiveram
sua chance de sobrevivência aumentada com a fundação de sociedades específicas,
muitas delas, como o Maracatu, transformaram-se em atrações turísticas. Isso
significa que sua natureza foi alterada para fazer face às necessidades de
coreografia geralmente imposta pelo turismo. Seria necessário que essas
sociedades atentassem para o problema e impedissem que sua natureza folclórica
fosse se transformando a ponto de chegar ao que chegou o Carnaval, ou seja,
manifestação folclórica cujas origens se perderam completamente no tempo e no
espaço, para se transformar apenas em atração turística, ou seja, um grande
jogo de interesses e grande empreendimento industrial.
Ao dividirmos a dança basicamente em três tipos
(religiosas, populares (folclóricas) e teatrais), deixamos propositalmente de
fora um quarto tipo, que serve de ligação entre o segundo e o terceiro: a dança de salão.
Dança de
Salão: Imaginem que a evolução da
dança seguiu o seguinte trajeto: o templo, a aldeia, a igreja, a praça, o salão
e o palco. O salão inclui todas as danças que passaram a fazer parte da vida da
nobreza européia da Idade Média em diante. Podemos situar o aparecimento dessas
danças na época em que a religião católica diminuía sua força em proibir tudo
aquilo que cheirasse a pecado ou a ligação com o paganismo. Os especialistas em
danças medievais são praticamente unânimes em dizer que as danças de salão
descendem diretamente das danças populares. Ao serem transferidas do chão de
terra das aldeias para o chão de pedra dos castelos, essas danças foram
modificadas. Abandonou-se o que havia nelas de “menos nobre” transformando-as
de acordo com o gosto das classes que se julgavam superiores.
Tendo se transformado em diversão das classes mais
ricas, a dança foi se sofisticando e adquirindo movimentos cada vez mais
complexos. A descrição das danças daquele tempo mostra-nos que elas obedecem a
uma verdadeira coreografia, a qual, sem dúvida, foi se formando e enriquecendo
através dos séculos. Vale-se ressaltar que nos séculos XVI e XVII, quando as
cortes européias seguiam rígidas etiquetas, esses verdadeiros códigos de
comportamento diziam até como se deveria dançar, quem poderia dançar com quem,
etc. Foi nessa época que uma manifestação que nascera livre e espontânea se
transformou numa “camisa de força”.
As primeiras danças sociais, como eram chamadas as
danças em casais, surgiram no séc. XIV. Eram a base dance (1350-1550) e o
pavane (1450-1650), dançadas exclusivamente por nobres e aristocratas. Nos
sécs. XIV a XVII a Inglaterra foi berço da contradanse, também só dançada pela
Corte. A popularização das danças sociais deu-se em 1820 através do Minuet e da
Quadrille. Já no início do séc. XIX ocorreram rápidas transformações no estilo
de dançar. O minueto e a quadrille desapareceram e a Valsa começou a ser
introduzida nos sofisticados salões de baile. Logo, a polka e, no início do
nosso século, o two-step, one-step, fox-trot e tango, também invadem os salões.
A dança social passa então a ser chamada de Dança de Salão (Ballroom Dancing).
No Brasil a dança de salão foi introduzida em 1914,
quando a suíça Louise Poças Leitão, fugindo da I Guerra Mundial, aportou em São
Paulo. Ensinando valsa, mazurca e outros ritmos tradicionais para a sociedade
paulista, Madame Poças Leitão não imaginava que iria criar uma tradição tão
forte, seguida por discípulos que continuariam a divulgar a dança de salão. No
Rio de Janeiro a dança de salão cresceu nas mãos de Maria Antonieta, que, com
várias correntes de professores, fazem o nosso bolero, samba no pé e samba de
gafieira famosos no mundo todo.
Danças
Teatrais: As danças teatrais, tal
como a conhecemos, iniciou sua trajetória quando Luís XIV fundou, em 1661, a
Academia Nacional de Dança. Essa Academia tem funcionado ininterruptamente até
nossos dias, uma vez que se transformou naquilo que hoje são a Escola e o
Ballet da Ópera de Paris. Assim, através de uma linha ininterrupta de
bailarinos e professores, temos naquele país o desenvolvimento dessa arte desde
o século XVII.
Mas, antes disso, muitas coisas aconteceram: a
semente daquilo que se converteria em Ballet foi levado à França por Catarina
de Médicis, que queria manter os filhos entretidos enquanto ela se preocupava
em governar. A rainha então importou da Itália artistas e cortesãos
especializados na preparação de luxuosos espetáculos, e lhes encomendou
inúmeras diversões que deveriam manter a corte distraída durante boa parte do
tempo. O espetáculo era uma combinação de dança, canto e textos falados, e seu
objetivo era claramente social e político: um passatempo elegante para o Rei e
sua corte. Também proporcionava ocasiões para o esbanjamento de fortunas e,
principalmente, possibilitava a indecente adulação que a corte fazia ao rei.
O primeiro Ballet a merecer este título foi o Ballet
Comique de la Reine, de Balthasar de Beaujoieux, italiano, apresentado em 15 de
outubro de 1581. Fora encomendado por Catarina de Médicis por ocasião do
casamento de sua irmã. O Ballet Comique de la Reine é considerado a primeira obra
de Ballet porque o autor, que era músico e violinista, compôs uma verdadeira
coreografia, mostrando extraordinário engenho nas figuras geométricas que
constituíam os diversos quadros e na direção do espetáculo, dando-lhe um cunho
verdadeiramente profissional. Claro está que os nobres da corte não tinham
nenhum treinamento e que os passos executados estavam dentro das possibilidades
dos intérpretes. Mas é o conjunto de fatores que dá a essa obra o direito de
ser apontado como a base da dança teatral, como a conhecemos hoje.
Cem anos depois, durante o reinado de Luís XIV, a
dança ganhou ainda um maior incremento. O próprio rei adorava dançar e, segundo
os cronistas da época, tinha talento para a coisa. No período entre 1651 e
1669, criou um extraordinário número de personagens desempenhando os mais
variados papéis. E Luís XIV gostava de
se cercar da nata de sua corte e de artistas. Entre seus primeiros bailarinos
estava Bassonpierre, que era Marechal de Campo do seu exército e passou a
estimular preguiçosos cortesãos que chegaram a ser verdadeiros
semi-profissionais pois dedicavam todo o seu tempo à Dança. Molière escrevia as
histórias (libretos) e compositores famosos como Lully e Beauchamps, compunham
as músicas para essas extravagâncias reais.
É interessante notar que, segundo um historiador
importante, o Ballet, tal como o conhecemos hoje, nasceu quando a acrobacia dos
ciganos e saltimbancos de feira se misturou com a graça artística dos
cortesãos.
Luís XIV fundou, em 1661, a Academia de Musica e
Dança. Oito anos depois, tendo engordado, o rei deixou de dançar e a corte
imediatamente seguiu o seu exemplo. Mas as raízes da nova arte estavam
devidamente plantadas, e o rei não abandonou o seu apoio à Academia que fundara
e que se encarregava de preparar músicos e bailarinos para o prazer real. Da
mesma forma com que o povo já frequentava teatros para assistir as peças de
Molière, logo foram sendo apresentados espetáculos que incluíam a danças como
parte integrante de sua estrutura.
BOURCIER, Paul. História da dança no
ocidente. São Paulo: Martins Fontes, 1987.
FARO, Antônio José. Pequena História da Dança. Rio de Janeiro: Zahar, 1986.
MENDES, Míriam Garcia. A Dança. São Paulo: Ática, 1987.
PORTINARI, Maribel. História da dança. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1989.
FARO, Antônio José. Pequena História da Dança. Rio de Janeiro: Zahar, 1986.
MENDES, Míriam Garcia. A Dança. São Paulo: Ática, 1987.
PORTINARI, Maribel. História da dança. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1989.
WIKIPÉDIA – Enciclopédia livre
Dança do Cacuriá - Turma 1V13
ResponderExcluirhttp://www.youtube.com/watch?v=SMXL9T0uKAQ