"A arte é a contemplação: é o prazer do espírito que penetra a natureza e descobre que ela também tem uma alma. É a missão mais sublime do homem, pois é o exercício do pensamento que busca compreender o universo, e fazer com que os outros o compreendam." (Auguste Rodin)

domingo, 2 de outubro de 2016

2ª Série - ARTE GÓTICA - 3ª Unidade - 2016

A Idade Média foi um dos períodos mais longos da História: durou cerca de dez séculos. Iniciou-se no ano de 476, com a ocupação de Roma pelos bárbaros, e teve fim em 1453, quando ocorreram dois fatos importantes; a tomada de Constantinopla pelos mulçumanos e o fim da Guerra dos Cem Anos, entre a França e Inglaterra.
A partir do século XII o centro irradiador de cultura deixa de ser os mosteiros e se expande para as igrejas das grandes cidades da Europa. Tem início uma economia fundamentada no comércio. A catedral da cidade torna-se o edifício mais importante e é nela que vamos encontrar toda a característica do estilo gótico.
O estilo gótico nasceu no século XIII, na França; em seguida, foi aceito pela Espanha, pela Inglaterra e mais tarde pela Alemanha e pela Itália.  
A arte na Idade Média tem a função de estimular a devoção e o trabalho. O artista é considerado um trabalhador manual, um artesão habilidoso, capaz de trabalhar matais, entalhar madeira, esculpir pedras e assim obter imagens.
Os trabalhos artísticos são feitos sempre em equipe, com mestres. Não há espaços para criações individuais. Foi a partir do século XV que a arte tornou-se mais criativa e cada artista pôde projetar-se individualmente. Portanto, as obras deixam de fazer parte de uma produção anônima, feita com a colaboração de vários autores, e passam a ser assinadas pelos artistas.

Arquitetura
A arquitetura foi fruto de uma nova sensibilidade que encontrou linguagem expressiva na verticalidade e no naturalismo em elementos construtivos, em sua grande originalidade, voltados sempre para o simbolismo teológico.
A forte verticalidade dos edifícios góticos favoreceram a evolução de técnicas construtivas e o uso de novos materiais.
No início do século XII ainda predomina a arquitetura românica, mas já surgem mudanças que conduzirão a uma profunda revolução arquitetônica.
O clima religioso daquela época favoreceu a construção de edifícios bem mais altos, que refletiam o desejo de uma ascensão espiritual.
A arquitetura expressa a grandiosidade, a crença na existência de um Deus que vive num plano superior; tudo se volta para o alto, projetando-se na direção do céu, como se vê nas pontas agulhadas das torres de algumas igrejas góticas.
O verticalismo e as amplas janelas querem simbolizar a vontade de aproximar-se de Deus, e a luz que entra pelas janelas traz a ideia do “paraíso” e acentua a fé popular.
As paredes ficam menos espessas e dão lugares às amplas janelas; as estruturas multiplicam-se, tanto no interior, como no exterior.
As igrejas tinham amplos vitrais, recobertos por cenas pictóricas, e, na fachada, a ampla rosácea ou elemento em forma de rosa.  Os portais possuíam uma especial função na arquitetura, pois eram recobertos por esculturas em seus nichos.
A característica mais importante da arquitetura gótica é a abóbada de nervuras, muito diferente da abóbada de arestas românica, porque deixa visíveis os arcos que formam sua estrutura.
Esse novo tipo de abóbada foi possível graças ao arco ogival, diferente do arco pleno do estilo românico. Com ele as igrejas góticas podiam ser muito mais altas que as românicas. Além disso, as ogivas, que se alongam e apontam para o alto, acentuam a impressão de verticalidade da construção.
Outro elemento muito usado nas catedrais góticas são os pilares. Dispostos em espaços bem regulares, eles dão suporte ao teto de pedra. Graças a eles as paredes não precisam ser muito grossas para sustentar o teto. As largas paredes com janelas estreitas das igrejas românicas dão lugar a paredes muito mais altas e com grandes janelas, preenchidas com belos vitrais. Esses conjuntos de arcos ogivais, pilares, paredes altas e cheias de vitrais transmite uma forte impressão de amplitude e leveza.
A rosácea é um elemento arquitetônico muito característico do estilo gótico e está presente em quase todas as igrejas construídas entre os séculos XII e XIV.
Outros elementos característicos da arquitetura gótica são os arcos góticos ou ogivais e os vitrais coloridíssimos que filtram a luminosidade para o interior da igreja.

Características das construções góticas:
A fachada: A igreja gótica apresenta três portais. No portal central há uma rosácea (vitral circular), presente em quase todas as igrejas construídas no século XII e XIV.

Os arcos: O arco ogival, que apresenta uma quebra em sua parte superior, possibilitou a construção de igrejas mais altas, acentuando a impressão de verticalidade.

As abóbadas: A utilização de arcos ogivais permitiu a construção de abóbadas de nervura nas igrejas góticas, substituindo, assim, as abóbadas de berço e de arestas usadas na arquitetura românica.
A abóbada de nervuras que deixa visíveis os arcos que formam sua estrutura.                                                                     
 Os pilares: Nas igrejas góticas, as abóbadas eram apoiadas nos pilares ou colunas de sustentação. Com a utilização desse novo tipo de apoio, as grossas paredes e pequenas janelas da arquitetura românica desapareceram e deram lugar a paredes mais leves e grandes vitrais, que proporcionaram uma iluminação peculiar à igreja gótica.
A consequência estética mais importante da introdução dos pilares foi a substituição das sólidas paredes com janelas estreitas, do estilo românico pela combinação de pequenas áreas de parede com grandes preenchidas por vidros coloridos e trabalhados chamados vitrais.
A arquitetura Gótica e os vitrais

O interior das catedrais góticas é bastante iluminado. A claridade entra pelas janelas do andar mais alto, pelas janelas das paredes das naves laterais e pelos grandes vitrais que ficam atrás do altar principal.
Combinados a colunas delicadas, os vitrais também dão ao ambiente uma aparência de leveza.
Os vitrais são elementos importantes na arquitetura gótica: ao deixarem passar a luz do Sol, criam um ambiente sereno e multicolorido.

Entre os séculos XII e XVI, foi construída a catedral de Notre-Dame de Chartres. Entre os aspectos mais importantes da sua arquitetura, destaca-se o portal principal, conhecido como Portal Régio e é considerado pelos historiadores da arte como um dos mais belos conjuntos escultóricos do mundo. O Portal Régio é formado por um portal central e dois laterais. Cada um desses portais apresenta um tímpano inteiramente preenchido por trabalhos de escultura.
O estilo gótico nas grandes catedrais medievais teve grande influência sobre a arquitetura das igrejas católicas ao longo dos séculos. Em São Paulo, por exemplo, a catedral mais importante da cidade, construída em pleno século XX, apresenta importantes recursos da arquitetura gótica: arcos ogivais, pilares com pequenas colunas ao redor, decoração com esculturas representando elementos da natureza (plantas e animais), vitrais e até arcobotantes no seu interior.
No século XV, o estilo gótico deixou de ser exclusivo dos edifícios religiosos e chegou às residências particulares, como o palácio conhecido como Ca’d’Oro, construído por Matteo Reverti, entre 1422 e 1440, em Veneza.
O nome Ca’d’Oro significa “Casa de Ouro”. É uma referência ao rico revestimento dourado que ornamentava a fachada de pedra branca no tempo da construção. Erguida sobre o Grande Canal, cujas águas refletem as linhas da fachada, essa residência é considerada o mais belo edifício gótico de Veneza.

Escultura
Com a redescoberta do classicismo e naturalismo nasce uma arte subordinada à arquitetura. No período gótico, na qual as figuras humanas foram esculpidas de modo mais próximo ao real, ganham mais proporcionalidade, expressividade e escolha de movimentos nas fachadas e nos portais, principalmente das catedrais. Era executada para ocupar espaços, seja na parte superior das portas, chamadas de tímpanos, ou seja, ao longo das paredes. As figuras humanas são alongadas, para caber nas estreitas colunas que as abrigam, e perdem a rigidez do período românico para ganhar espontaneidade. As representações mais comuns são as de reis, rainhas, nobres de alta linhagem e santos.
Os materiais preferidos para esculpir foram o mármore branco, o bronze, a madeira e o marfim.
O escultor gótico de destaque foi Giovanni Pisano que esculpiu monumentos fúnebres, fontes, púlpitos e pias batismais.

Pintura
A pintura gótica tinha como função deixar clara as imagens e as ideias expressas pelos frades e pelos governantes das comunidades, portanto, os temas religiosos eram bem explorados. Era importante exprimir o real sentimento, daí o naturalismo que animava as figuras, mesmo porque estas deviam reproduzir as personagens em vida.  Como exemplo: temos a vida e os principais momentos de São Francisco.

Em relação à arquitetura e à escultura, a pintura gótica teve seu nascimento tardio. As primeiras configurações góticas se deram no século XIII e predominaram até o século XV. As principais características da pintura gótica foram:
*         Profundidade: Diferentemente da pintura românica onde as cenas aconteciam num único plano, à pintura gótica procura dar algum movimento às figuras através da postura dos corpos e das paisagens de fundo. Porém, a ilusão de profundidade só se realizou plenamente no movimento que procedeu o gótico: o Renascimento.

*         Realismo: As figuras são representadas de forma mais detalhada e realista. O artista tenta reproduzir os seres exatamente como eles são. Contudo, isso só foi possível no Renascimento através dos estudos de anatomia, quando a dissecação de cadáveres foi permitida, antes proibida pela igreja.

Dentre os principais pintores desse momento artístico temos: Cenni di Petro (Giovanni) nascido em Florença e conhecido como Cimabue (c.1240 – 1302) foi um pintor e criador de mosaicos. Foi professor de Giotto di Bondone.  Seu trabalho ainda foi influenciado pelos ícones bizantinos, mas já apresentava uma nítida preocupação com o realismo ao representar a figura humana. Suas obras mais importantes foram feitas para a igreja de São Francisco, em Assis, mas outros museus e igrejas da Itália também existem pinturas de sua autoria. Um belo exemplo da pintura desse artista é a obra conhecida como A virgem e o menino rodeados de anjos. Encomendado para a igreja de São Francisco, em Pisa, esse trabalho foi feito em têmpera sobre madeira.
Ele também é popular por ter descoberto Giotto e ser considerado o último grande pintor italiano a seguir a tradição bizantina.

retorno da representação da realidade se encontra principalmente nas obras do pintor Giotto (1266 -1337). A maior parte de suas obras é formada por afrescos que decoravam igrejas.
Giotto usou na pintura tonalidades de cores que dão solidez e profundidade à figura humana. Usou o naturalismo e a análise espacial que se concretizou na descrição minuciosa de alguns ambientes por ele decorados.
A principal característica de sua pintura é a representação dos santos como pessoas de aparência comum, mas sempre em posição de destaque.  Esses santos com ar humanizado eram os mais importantes das cenas que pintava, ocupando sempre posição de destaque na pintura.
Além dos grandes murais de Giotto, que cobriam as paredes das igrejas, a pintura gótica expressou-se nos quadros de menores proporções e nos retábulos.
Um retábulo consiste em dois, três ou mais painéis que podem ser fechados uns sobre os outros e abertos durante as celebrações religiosas. Conforme o número de painéis, ele recebe o nome especial: se possui dois painéis díptico, três tríptico, quatro ou mais, políptico. 
Manuscritos ilustrados
Durante o século XII até o século XV, quando Gutemberg inventou a impressão com tipos móveis, qualquer publicação era manuscrita. Os textos da bíblia eram copiados sobre uma fina pele de cordeiro e o copista deixava espaços pra que os artistas executassem ilustrações.
Neste período, os artistas buscavam representar seres de maneira que se aproximassem do real. Contudo, não conseguiam realizar a ilusão de profundidade do espaço. O afresco era muito utilizado, principalmente nas paredes laterais das igrejas. Fora do ambiente religioso os temas, mais comuns, eram cenas de caça, de reuniões musicais ou de diversões em jardins.
Os principais pintores da época: Giotto, Cimabue e Duccio.
Os manuscritos eram feitos em várias etapas e dependiam do trabalho de várias pessoas. Primeiro, curtia-se de modo especial a pele de cordeiro ou vitela, obtendo-se o velino. Nas oficinas dos mosteiros ou nos ateliês de artistas, os trabalhadores cortavam as folhas de velino no tamanho que teria o livro. A seguir, os copistas transcreviam os textos sobre as páginas já cortadas. Ao fazê-lo, deixavam espaços para que os artistas fizessem as ilustrações, os cabeçalhos, os títulos ou as letras capitulares. Esse trabalho ficou conhecido como iluminuras. 

Os vitrais e as artes menores
Os vitrais eram construídos por artesãos especializados que, seguindo um desenho preparatório, cortavam e coloriam como se fosse um mosaico.
Assim, o interior das igrejas era ornamentado com cores vivas nos vitrais que valorizam a estrutura arquitetônica.
Os vitrais pintados e decorados eram também uma forma de ensinar e evangelizar o povo por meio da mágica luminosidade das cores e dos relatos bíblicos.  

Glossário:
Arco ogival: tem forma de ogiva (figura formada pelo cruzamento de dois arcos iguais que se cortam superiormente, formando um ângulo agudo).
Arcobotante: é uma peça em forma de arco que transmite a pressão de uma abóbada da parte superior de uma parede para os contrafortes externos. Isso possibilitou que as paredes laterais não tivessem mais a função de sustentar as abóbadas.
Iluminura é um tipo de pintura decorativa aplicada às letras capitulares dos códices de pergaminho medievais. O termo se aplica igualmente ao conjunto de elementos decorativos e representações imagéticas executadas nos manuscritos produzidos principalmente nos conventos e abadias da Idade Média.


Bibliografia:
PROENÇA, Graça. Descobrindo a História da Arte. 1ª edição.  São Paulo. Ática. 2005.
______________. História da Arte.17ª ed. São Paulo. Ática. 2009.
CALABRIA, Carla Paula Brondi. MARTINS, Raquel Valle. Arte, História e Produção. Vol 2. São Paulo. FTD. 1997.


CANTELE, Angela Anita. CANTELE, Bruna Renata. Arte e Habilidade. 7ºano. 2ªed. São Paulo. IBEP. 2012.

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